VACINAÇÃO – A verdade não oculta

Propaganda, mentiras e vídeo. O movimento anti-vacinação em análise

Em Portugal parece não existir um movimento anti-vacinação organizado como noutros países. É preciso pesquisar muito na Internet para encontrar alguém que se oponha oficialmente às vacinas pelos alegados efeitos secundários e perigosos. Existem, no entanto, vestígios discretos deste pensamento, por vezes escondidos nas caixas de comentários de jornais online, ou mesmo aqui na COMCEPT ou mais declarados em alguns artigos ou páginas web.

Mesmo sem existir um movimento com uma presença sistemática na Internet em Portugal, uma procura básica por “Perigos das vacinas” trás à luz uma série de links para blogs e artigos vindos do Brasil onde o movimento anti-vacinação parece ter mais força.

E talvez seja por isso que no mês passado, um blog português tenha rebuscado um vídeo de 1998 e traduzido para português do Brasil para fazer uma advertência: “Convém ouvir os dois lados….”

E o que o outro lado nos diz é terrível. Fomos enganados durante anos a fio. Os documentos, as frases sinistras, a grande conspiração, aquilo que eles não querem que se saiba, está tudo encerrado num vídeo do Youtube e se está no Youtube é porque é verdade!

http://www.youtube.com/watch?v=H4bhwgXsbzA&feature=share&list=PLGUYmDxyn_JBk24eJ7Iy5KrKaeifGNdAd

Vacinação: a verdade oculta (em inglês, The Hidden Truth) é o título perfeito. É  preciso perder horas e dias, paciência e ter muita habilidade para tentar descodificar o que é dito, procurar e cruzar referências para encontrar a verdade. Este post é, no entanto, apenas uma selecção de alguns casos mais flagrantes, não uma análise intensiva de tudo o que é dito (na grande maioria sem suporte documental). 

Mesmo não sendo recente, este documentário serve como paradigma da propaganda e desinformação irresponsável que circula pela Internet. Foi produzido por uma organização anti-vacinação australiana e, passados 15 anos, os argumentos não sofreram grandes alterações.

O formato não difere muito de outros documentários. São pequenas entrevistas a várias pessoas, quase todas com currículos nas áreas das terapias não convencionais e não faltam os casos pessoais para apelar à emoção. O vídeo pretende responder e “esclarecer” as seguintes questões:

O que é a vacinação?
1. É eficaz?
2. Mecanismos e ingredientes
3. Efeitos reais
4. Porque continua
5. Direitos legais
6. Enfrentando os danos
7. Verdadeiro caminho para a imunidade

O movimento anti-vacinação tem dificuldades em ultrapassar o sucesso das vacinas. Por isso, uma das técnicas mais recorrentes para introduzir a dúvida é, primeiro, minar a ideia que as vacinas são responsáveis pela eliminação de doenças graves; segundo, minimizar os efeitos das doenças que as vacinas eliminaram ou reduziram.

As vacinas são responsáveis pela redução de doenças infecto-contagiosas?

Numa série de comentários, os vários entrevistados vão relatando vários casos que parecem indicar que as doenças como sarampo, rubéola, papeira, tosse convulsa e difteria estavam a desaparecer antes de qualquer vacina ter sido introduzida.

Mortes devido a complicações por doenças como sarampo, rubéola, papeira, tosse convulsa, difteria  caíram 90% antes de qualquer vacina ter sido introduzida.” Viera Scheibner Parte 1

As mortes causadas por algumas destas doenças infecto-contagiosas parecem realmente ter diminuído antes da introdução das vacinas. Note-se no termo, as mortes, não a incidência da doença. A melhoria geral das condições de vida, de higiene e saneamento e acima de tudo, os avanços da medicina, a introdução de antibióticos e outros tratamentos, tudo isto contribuiu para a diminuição das mortes derivadas de complicações por estas doenças.[1] [2]

Mas, quando observamos a incidência de doenças infecto-contagiosas após a introdução das vacinas, é bastante evidente. Veja-se os casos da difteria, tosse convulsa (ou pertussis) ou sarampo nos Estados Unidos. 

A incidência de Hib (meningite por Haemophilus influenza) em crianças menores de 1 ano estava a diminuir antes da introdução da vacina para esta idade.”  Viera Scheibner – parte 2

Imagem captada do vídeo - Vacinação: A verdade Oculta
Imagem captada do vídeo – Vacinação: A verdade Oculta

O gráfico mostra-nos claramente que a incidência da doença por Haemophilus influenzae começa a diminuir após a introdução da vacina. Esta diminuição não pode ser explicada por outros factores como nutrição ou melhores condições de saneamento e higiene porque não houve assim tantas diferenças entre as décadas de 80 e 90. Então há que provocar a dúvida quanto à incidência da doença entre crianças com menos de um ano de idade (as mais susceptíveis de sofrer com a doença).

O risco de uma doença infecto-contagiosa depende da probabilidade de exposição à bactéria ou vírus. E as crianças em fase pré-escolar são as mais susceptíveis de contrair esta bactéria. Segundo dados do CDC a doença não é comum após os 5 anos de idade, supondo-se que a imunidade à doença aumenta com a idade. Assim, se existe um maior número de crianças vacinadas a partir dos 2 anos é natural que o número de crianças com menos de um ano de idade reduzam igualmente. [3]

Há 3 momentos indicados no gráfico que mereciam uma explicação se este “documentário” tivesse a intenção de ser honesto. As primeiras vacinas contra a Hib, foram licenciadas nos EUA em 1985. Esta vacina não era apropriada para crianças com menos de 18 meses de idade. 5 A primeira vacina conjugada e passível de ser administrada a crianças com menor idade foi licenciada no final de 1987, mas só a partir dos inícios dos anos 90 a vacinação para crianças com 2 meses começou a ser recomendada.[4]

O sarampo, por exemplo, estava quase extinto na Europa quando começaram os programas de vacinação.  Os casos aumentaram novamente.” Pauline Rose – parte 2

Measles incidence England and Wales 1940-2007 Fonte: WikiCommons
Measles incidence England and Wales 1940-2007
Fonte: WikiCommons

As doenças infecto-contagiosas têm picos de actividade. E como este gráfico mostra, a incidência de sarampo em Inglaterra e no País de Gales, diminui com a introdução da vacina e os picos desaparecem com a introdução da vacina tríplice. É claro, que nunca se fala no realmente sucede quando há uma quebra na vacinação.

As vacinas são eficazes?

“Epidemias em populações eficazmente vacinadas são a regra não a excepção.” Viera Scheibner – parte 2

Afirma-se que as pessoas vacinadas não estão mais protegidas que aquelas que não foram vacinadas. Não sabendo explicar o que é a imunidade de grupo dá-se o exemplo de um surto de sarampo numa comunidade no Texas, Corpus Christi na primavera de 1985, mesmo sendo a vacinação obrigatória. Note-se a menção de percentagens de vacinados, não há menção de quantas pessoas foram realmente infectadas.

Antes de mais, um surto é diferente de uma epidemia. Por outro lado, o facto da vacinação ser obrigatória não significa que toda a gente está vacinada. Existem isenções médicas, religiosas e filosóficas nos EUA.

Apesar das vacinas serem eficazes, nem todos os indivíduos respondem da mesma maneira à vacinação, não criando anticorpos capazes de combater a infecção. Por esse motivo e porque existem pessoas com o sistema imunitário comprometido, é recomendado manter os níveis de vacinação de uma população acima dos 95%, de modo a conter um possível surto. A isto chama-se imunidade de grupo (Herd immunity)

O estudo que Viera Scheibner cita deve ser este. Como seria de esperar, cita só a parte que lhe interessa. Só tenho acesso ao resumo, mas é suficiente para este caso servir de exemplo a favor da vacinação do maior número de pessoas e não do contrário.

Neste caso específico, a grande maioria dos estudantes das duas escolas estava realmente vacinada (99%), mas dos 1806 estudantes, 74 não tinham criado anticorpos contra o sarampo apesar de terem sido vacinados. Desses 74, apenas 14 contraíram a doença. Nenhum dos 1732 que desenvolveram anticorpos contra o sarampo contraiu a doença. [5]

Caso da comunidade Amish – que recusa a vacinação por razões religiosas – não reportou nenhum caso de sarampo entre 1970 e 1988.” Viera Scheibner – parte 2

A comunidade Amish nos Estados Unidos é uma comunidade extremamente isolada e reduzida. Não sei até que ponto será de esperar que a comunidade reporte casos de sarampo ou de qualquer outra doença às autoridades. Por outro lado, o facto de estar relativamente isolada e mesmo tendo contacto com populações vizinhas (estando estas imunizadas), a probabilidade surgir um surto de uma doença infecto-contagiosa será menor que outra que tenha uma maior mobilidade.

De qualquer maneira, um relatório sobre políticas de vacinação indica que durante o período de 1985-1994 houve surtos de sarampo em grupos religiosos que se opõem à vacinação. Surtos de poliomielite  (nos anos 70), tosse convulsa, rubéola foram detectados entre comunidades Amish.[6]

Scheibner não indica qualquer razão para o período 1970 – 1988, mas tenho a certeza que o limite se prende porque existe um caso que destrói o seu argumento.

Houve uma grande epidemia de varíola nas filipinas (…) Foi claramente demonstrado que as únicas pessoas que contraíram varíola duas vezes foram as que tinha sido vacinadas. Dr. Archie Kalokerinos 2ª parte

Não há qualquer indicação da data e como poderemos consultar as estatísticas que Kalokerinos afirma que podem ser consultadas. As referências que encontrei apontam para sites anti-vacinação e depois de alguma insistência encontrei uma refutação ao movimento anti-vacinação de 1922 e que faz alusão à campanha de vacinação nas Filipinas.

Redução de 99% da incidência das 3 doenças foi acompanhada por uma taxa crescente de diagnósticos “falsos positivos” (…) As crianças continuaram a contrair as doenças, mas foram diagnosticadas como “falsos positivos”. Viera Scheibner – parte 4

Segundo o vídeo, a razão pela qual as vacinas aparentam ter muito sucesso tem a ver, acima de tudo, com alterações de significado das palavras e de diagnóstico. Num dos exemplos, o estudo citado por Scheibner apresenta os resultados na eliminação de sarampo, papeira e rubéola na Finlândia. A frase citada é retirada do resumo e Scheibner não percebe o que são “Falsos positivos”.

O que se pode ler é que após o programa de vacinação apenas 0.8% dos casos clinicamente diagnosticados foram confirmados serologicamente. Ou seja, todos os restantes casos eram falsos positivos, casos de doenças que se assemelhavam ao sarampo, mas não eram sarampo. [7] O mais irónico é que, um pouco mais à frente, um dos intervenientes atribui a culpa aos novos surtos de doenças a falsos casos que não são confirmados em laboratório. 

Em 1975 Japão parou de vacinar crianças com menos de 3 anos de idade – passou do 17º lugar para o país com mais baixo índice de mortalidade infantil do mundo. 13 anos mais tarde a idade mínima baixou para 3 meses  e a tendência imediatamente retrocedeu” Bronwyn Hancock – Parte 5

Tenho muitas dúvidas quanto a esta afirmação, já que uma procura neste sítio e num período entre 1988 e 2004, a tendência descendente tem sido constante até à actualidade.

Fonte: Trading Economics
MORTALITY RATE; UNDER-5 (PER 1;000) IN JAPAN
Fonte: Trading Economics

Pelo que consegui averiguar, houve uma interrupção na vacina contra a tosse convulsa (pertussis), não contra todas as vacinas. Não se menciona obviamente o resultado desse abandono: uma epidemia de pertussis em 1979 com mais de 13000 casos e 41 mortes. O Japão retomou a vacinação contra a tosse convulsa em 1981.[8]

Tosse convulsa, sarampo, papeira, rubéola, varicela – são doenças perigosas?

Em 1978-79 84% das crianças suecas que contraíram a pertussis tinham sido vacinadas, (…)por isso, a vacina foi suspensa. Durante os 10 anos seguintes, não houve incidência abaixo da idade de 6 meses. 90% dos casos ocorreu entre os 2 e 10 anos, onde não é fatal.” Viera Scheibner

Neste estudo percebemos que as coisas não são assim tão simples.  Na introdução podemos ler que a vacinação na Suécia contra a tosse convulsa foi introduzida nos anos 40. Durante a década de 60, grande parte da população (90%) estava vacinada e a incidência da doença era rara. Nos finais dos anos 70 houve realmente um surto de tosse convulsa que parece estar relacionado com uma alterações na produção da vacina e com suspeitas de falta de eficácia.[9]

Não consegui encontrar o gráfico ou o estudo que é mencionado no vídeo. Mas não deixa de ser surpreendente que se opte por ocultar o resultado dos surtos de tosse convulsa em 1983 e 1985, após o abandono da vacinação. Entre 1981-1983 mais de 2000 pacientes foram hospitalizados e destes, 48% eram crianças com menos de 1 ano. 4% tiveram complicações neurológicas e 14% pneumonia. 11 crianças receberam ventilação assistida e 3 crianças morreram. [10]

Scheibner diz que a Tosse convulsa “só é uma doença potencialmente desagradável abaixo dos seis meses de idade”. A morte é potencialmente desagradável… 

Outras doenças [11] com consequências desagradáveis: 

Poliomielite – Sintomas não específicos ligeiros tais como febre, dor de garganta, dores musculares, diminuição do apetite, mal-estar, náuseas, vómitos, dor abdominal, obstipação ou diarreia; • Poliomielite não-paralítica com meningite asséptica: Após os sintomas iniciais de doença menor, ocorre inflamação das meninges com queixa de dores de cabeça, vómitos, dores no pescoço, costas, membros inferiores e rigidez da nuca; Poliomielite paralítica ou doença maior: destruição de neurónios motores, o que resulta em paralisia flácida aguda dos músculos por eles inervados. Pode afectar um ou vários músculos. Na poliomielite espinhal há dor muscular intensa, seguida de fraqueza e paralisia que é habitualmente assimétrica.

Papeira – A manifestação mais comum é o “inchaço” da parótida, que usualmente é unilateral no início da doença, mas que se pode tornar bilateral em 70% dos casos. Esta doença pode complicar-se por infecção de outros órgãos, principalmente envolvimento do testículo e do sistema nervoso central, causando orquite, meningite e encefalite.

Sarampo –  Otite média aguda;  Pneumonia – A pneumonia pode ser uma complicação grave e até mortal, principalmente se má-nutrição e nos extremos da vida. Pode ser grave e por vezes mortal; Encefalite – A encefalite é uma complicação rara (1 caso por 1000), mas associada a elevada morbilidade e mortalidade; Panencefalite esclerosante subaguda – É uma encefalite lenta que surge 1 caso em 1 milhão de casos de Sarampo, meses ou anos após a fase aguda do sarampo. Numa primeira fase surgem alterações do comportamento e intelectuais e após surgem alterações motoras, convulsões, coma e morte.

De todas as declarações, esta é mais desonesta e irresponsável. Dizer que estas doenças fortalecem o sistema imunitário e que devem fazer parte do desenvolvimento normal de uma criança é ridicularizar as milhares de crianças que sofreram ou morreram ao longo da história. No final do vídeo ainda há tempo para oferecer os serviços de terapias não comprovadas – mas a que curiosamente praticamente todos os intervenientes estão ligados profissionalmente. O caso da homeopatia é gritante.

Depois de ter passado alguns dias a tentar encontrar os documentos que são mencionados, percebo porque é que estes vídeos de propaganda têm tanto sucesso. A maioria das pessoas não se dá ao trabalho de analisar tudo o que se diz, especialmente porque este formato não é o ideal para incluir referências (mas não é impossível). E para o público-alvo, a imagem aparente de um “especialista”, umas meias-verdades, e uns quantos gráficos mal interpretados, é suficiente. Nem é preciso pensar muito, basta olhar.

Fica muito por dizer, nomeadamente quanto a alegados efeitos secundários graves e aos ingredientes das vacinas. Ficará para um próximo episódio.

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FONTES

[1] Vaccines didn’t save us” (a.k.a. “vaccines don’t work”): Intellectual dishonesty at its most naked

[2] Diseases had already begun to disappear before vaccines were introduced, because of better hygiene and sanitation.

[3] Epidemiology and Prevention of Vaccine-Preventable Diseases: Hib

[4] Vaccine-Preventable Diseases and Immunization Coverage in California 2001-2006 – PDF

[5] Measles outbreak in a fully immunized secondary-school population

[6] Vaccination Mandates: The Public Health Imperative and Individual Rights – PDF

[7] The Elimination of Indigenous Measles, Mumps, and Rubella from Finland by a 12-Year, Two-Dose Vaccination Program

[8] Impact of anti-vaccine movements on pertussis control: the untold story

[9] Whooping cough in adults – PDF

[10] Pertussis in Sweden after the cessation of general immunization in 1979.

[11] Vacinas – em português

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22 Comments

  1. Obrigado pelo trabalho de desmontagem do documentário.
    Há umas semanas atrás vi o documentário e reconheço que fiquei com algumas dúvidas. Não muitas, mas algumas…

    Agora ficam as dúvidas sanadas.
    Abraço

    1. Caro Basilista,

      Os casos reportados no link tratam-se compensações legais – não uma avaliação científica. O tribunal das vacinas nos Estados Unidos, até onde consigo averiguar, aceita qualquer alegação de dano desde que apresente uma relação temporal entre uma vacina e um determinado dano. Existe uma tabela de eventos médicos que presumivelmente são efeitos secundários das vacinas enquanto não for encontrada outra causa. A queixa é reembolsada de acordo com uma fórmula. Não é feita qualquer análise científica aos casos, trata-se de uma decisão judicial. Para saber mais, http://www.historyofvaccines.org/content/articles/vaccine-injury-compensation-programs

      Note-se também que nos 3 casos apresentados no link, a queixa reporta-se a casos de encefalite, não a autismo. Em relação a casos entre MMR e autismo apresentados ao tribunal não foram consideradas suficientes as ligações entre a vacina, thimorosal e autismo. Mas lá está, é uma decisão judicial, não é científica. http://www.vaccinesafety.edu/autism-testcases.htm

      http://www.uscfc.uscourts.gov/sites/default/files/OSM.Guidelines.pdf no ponto 9. Pode ler-se: “As Vaccine Rule 8 makes clear, the special masters are not bound by formal Rules of Evidence. The special masters will devise procedures for the taking of evidence and argument based on the circumstances of a given case. Counsel are encouraged to be creative and to take the initiative in suggesting ways in which the record can be constructed quickly and less expensively”

      Quanto aos estudos que o autor faz referência, não percebo o que faz o Thimerosal na lista. Desde 2001, a única vacina nos EUA que contém thimerosal é a vacina contra a gripe (e existe uma variante sem este elemento). http://www.cdc.gov/vaccinesafety/concerns/thimerosal/thimerosal_timeline.html

      Mas uma avaliação dos ingredientes e alegados efeitos das vacinas está para breve.

    2. O que é que este link trás de novo à discussao?
      Nada.
      Uma decisão judicial americana não é evidência científica de nada!
      O resto do texto é a típica alegação conspiranóica que ignora todos os dados científicos e recorre apenas a “anecdotes” (relatos e impressões pessoais).
      O autismo é uma (ou várias) doença devastadora e em grande medida misteriosa. Durante décadas nem sequer era diagnosticada. Estamos ainda a tentar perceber a ponta do iceberg.
      As vacinas nada têm a ver com os espectros autistas. A VASPR nada tem a ver com o espectro autista. E, como já referiu a L Abrantes, o timerosal já nem sequer é usado na grande maioria das vacinas.
      Curiosamente, o número de diagnósticos (note-se, diferente de número de casos) de espectros autistas continua a aumentar.
      Mesmo que houvesse uma correlação numérica (que não há), há sempre que recordar que a correlação não implica causalidade.

      1. Bom já vi que aqui existem muitos pseudo informados em vacinação.
        Pelo que vejo o artigo é muito pouco fundamentado e claramente pro vacinas, mas na realidade acho que não devemos ser pro nem contra, mas sim ver as coisas pela prespectiva certa.
        Primeiro a industria farmaceutica existe não para salvar pessoas ou vidas, mas sim para lucro próprio, não está sequer provado qualquer efeito efectivo em algumas vacinas caso bem patente nas vacinas contra a gripe, casos de pessoas que ficaram infectadas com gripe por terem apanhado a vacina.
        E para aqueles médicos que realmente vão ao problema sabem tanto ou melhor que eu que as vacinas não podem ser generalizadas para toda a gente, porque aquilo q faz bem a um organismo pode não fazer a outro e causar graves lesões.
        Ora nem mais que o próprio premio nobel da medicina venha a publico falar daquilo que aqueles que realmente têm olhos na cara e cabeça para pensar já lá chegaram.

        “http://www.dialogosdosul.org.br/websul/farmaceuticas-nao-visam-a-cura-mas-a-dependencia-diz-nobel-de-medicina/”

        Quanto as vacinas existem bastantes investigações independentes e imparciais, que revelam coisas incriveis, e que os Sr´s donos do negocio das farmaceuticas tentam contra argumentar com novos estudos imparciais só mesmo para desmentir outros.
        O problema aqui é que entramos em demagogia e em poucas coisas concretas, mas na verdade as vacinas podem ter salvo muitas vidas mas ao mesmo tempo tb tiraram muitas vidas, pq nao vem nas noticias as experiencias q foram feitas em Africa e que centenas de crianças morreram com essas experiencias!!!
        Concretamente no problema das vacinas e no caso do Autismo aquilo que se descobriu é que vários factores podem causar autismo e um deles está relacionado com algumas vacinas, mas quando falamos em vacinas, devemos falar mais concretamente nos adjuvantes das mesmas que esses são encomendados à china que os produz mundialmente para a industria farmaceutica.
        Adjuvantes esses que contem proteinas e alguns metais para conservação do ADN ainti-gen e para causar um maior impacto no systema imunitario. O problema recai no uso de Mercúrio em sua forma mais comum de timerosal que é colocado em quase todas as vacinas, Mecurio este que pode causar graves lesoes cerebais, e muitas irreverciveis.
        Como se sabe o mercurio mata, também sei que agora actualmente podem já não estar a usar o timerosal, mas voltamos então para o hidróxido de alumínio, que continua a ser o adjuvante mais usado em vacinas para humanos. Também existem mais estudos q provam q o alumino é muito nocivo ao organismo e que pode perdurar durante anos no nosso organismo sem conseguir ser desipado, e que concentrando-se no cerebro causa graves problemas, testado com ratos como normalmente se faz.
        Com isto não quero dizer que devemos deixar de ser vacinados, mas sim antes de as aplicarmos a nós próprios sabermos se somos ou nao intolerantes a algumas protainas ou substancias, e se geneticamente somos ou não propensos a certos tipos de doenças que possam ser potencializadas atraves das vacinas.

        1. Caro D. Pedro

          Colocou o mesmo comentário em dois artigos distintos – embora tivessem o mesmo tema por base – por isso não tenho a certeza a qual artigo se refere quando diz que o artigo é muito pouco fundamentado.

          Se me pudesse indicar quais as afirmações que não estão ou têm fraca fundamentação, agradecia.

          “não está sequer provado qualquer efeito efectivo em algumas vacinas caso bem patente nas vacinas contra a gripe, casos de pessoas que ficaram infectadas com gripe por terem apanhado a vacina.”

          Pode indicar os estudos e as observações clínicas onde se baseia para fazer essa afirmação?

          A opinião de Richard Roberts é muito interessante e daria para uma outra longa conversa. Discordo, no entanto, quando diz que não existe interesse da Indústria farmacêutica em curar. Mesmo tendo em conta os abusos e as manipulações dos laboratórios farmacêuticos, existem doenças que foram erradicadas (por exemplo, a varíola) e muitas outras que estão em vias de desaparecer (pólio, por exemplo). Se esses esforços de total erradicação foram interrompidos, só temos de agradecer ao movimento anti-vacinação.

          Existe muita investigação, mas não sei a qual investigação se refere. E se ela é independente e imparcial, só analisando. Existe, de facto, muita “investigação” alguma até paga e apoiada pelo movimento anti-vacinação. Existe também muita manipulação de dados, tal como pode verificar no artigo onde está a comentar. Existem bons e maus estudos, uns financiados pela indústria farmacêutica, outra por investigadores ligados a universidades. Há que avaliar os estudos pelo que são, pelos seus métodos e análise.

          Fico contente por ler que pelo menos admite que as vacinas salvam vidas, mas logo a seguir contradiz-se e diz que mataram centenas de crianças… Pode ser mais específico na sua acusação? Que crianças e que experiências e que vacinas?

          A investigação em torno da síndrome de Autismo aponta para uma forte componente genética se bem que não pareça ser exclusiva. O que sabemos, até prova em contrário, é que a relação entre autismo e a vacinação é inexistente. Insistir numa ideia tantas vezes testada e sem resultados é perda de tempo. E com isso desviam-se as atenções e esforços da investigação real que necessita de ser feita.

          O D. Pedro tem de se decidir, ou é o mercúrio ou é o alumínio o ingrediente que causa o autismo.

          O adjuvante usado em muitas vacinas no passado foi o etilmercúrio (timerosal), que é diferente do metilmercúrio (que causa danos em quantidades elevadas). Este metilmercúrio (que nunca foi usado nas vacinas, repare) é aquele que é encontrado em várias espécies de peixe que consumimos. E mesmo um consumo elevado em peixe não está associado a distúrbios de aprendizagem ou outros danos cognitivos.

          O etilmercúrio usado em algumas vacinas até 2000, era numa dose reduzida. Foi no entanto retirado das vacinas e estudos posteriores não encontraram uma ligação causal entre o uso de timerosal e casos de autismo. Aliás, o número de diagnósticos de autismo tem continuado após a retirada deste adjuvante. Por isso, este argumento repetido até à exaustão, não faz sentido.

          Ao mesmo tempo que se continua a usar o argumento do timerosal, alguns sites que promovem o movimento anti-vacinação, optaram por “descobrir” outro “culpado” para o autismo. Agora bicho papão é o alumínio.

          O alumínio é um dos elementos mais comuns do nosso planeta. Está por todo o lado. E parece que só é realmente nocivo em grandes doses. É isso que é verificado em estudos com animais. Se o aluminio está no meio ambiente, como é que se atribui um efeito nocivo à uma dose reduzida nas vacinas quando existem outras fontes passíveis de provocar contaminação?

          O D. Pedro quer dar a entender que não é anti-vacinação, mas todos os seus argumentos são iguais aos que o movimento anti-vacinação usa. As vacinas salvam vidas.

          1. Caros L Abrantes e D Pedro:

            Parece-me que no cerne da vossa discussão se encontra a dicotomia entre medicina moderna e medicina pós-moderna, colocando-se a cara L Abrantes do lado da primeira, e o caro D. Pedro do lado da segunda. Poderão aprofundar os vossos conhecimentos sobre este tema ao ler a seguinte artigo:

            http://repositorio.chlc.min-saude.pt/bitstream/10400.17/511/1/RSPMI%201996%20259.pdf

            Caros L Abrantes e D Barbosa:

            Tudo evolui e a medicina também. Se noutras áreas do conhecimento as metodologias de investigação do século XXI não são as mesmas que as de séculos anteriores, é natural que na medicina também não.

            Assim os métodos “imparciais” que defendem como os “melhores” são questionáveis, e é natural que em universidades de topo, como Oxford e Harvard, surjam personalidades inteligentes que desenvolvem estudos brilhantes, que em muito ultrapassam a compreensão de quase todos nós, e nomeadamente daqueles profissionais que se formaram e continuam a acreditar e a defender valores de uma medicina ortodoxa, ancorada nos mais ancestrais preconceitos.

            E um dos principais preconceitos que esta medicina defende é que aquilo que é válido para a maioria é válido para todos, que aquilo que faz bem a quase todos deve ser aplicado a todos sem excepção, e que em prol de um bem maior devem ser ignorados mal menores.

            Ora, todos sabemos, mais que seja pelo avanço da genética, que não somos todos iguais. Somos todos seres humanos, mas uns mais do que outros têm propensão para esta ou aquela doença, para esta ou aquela qualidade, para este ou aquele vício, etc. etc. etc.

            Se, à partida, não somos iguais, é natural que os nossos organismos reajam de forma diferente a esta ou aquela intervenção do meio, adptando-se ou sofrendo as consequências da interacção com o mesmo.

            O que significa que, reportando-nos às vacinas, o que para a grande maioria é bom e aceite como válido e benéfico, para uns poucos (os mal-menores que para alguém significarão muito) não o é.

            Outro dos preconceitos é o de que para um determinado mal existe apenas uma causa, uma causa localizável, isolável, medível, concreta, que gera determinado efeito – o mal.

            Tratam-se os sintomas, e normalmente os “porquês”, a raiz dos problemas fica por resolver. Isto porque se procura “o mal” comum a todos os seres humanos, gerador de tal doença, um mal que a todos atinge da mesma maneira.

            Ignora-se 1) a especificidade de cada ser humano e ignora-se 2) a complexidade do funcionamento de qualquer organismo, no qual diferentes factores (genéticos, ambientais e outros) concorrem, interagindo entre si, influenciando-se e contaminando-se.

            É precisamente devido ao reconhecimento dos dois factos supracitados que a medicina pós-moderna leva a cabo estudos cujo objecto não é todo o planeta, mas sim subgrupos, com determinadas características em comum.

            Estudos esses levados a cabo por mentes científicas brilhantes, do nosso século XXI, mas que serão certamente considerados como “anecdotes” por D Barbosa, por não corresponderem e não cumprirem os requisitos das metodologias mais antigas com que está familiarizado, e como tal considera “melhores”.

            Durante toda a história da medicina (tal como na história do ser humano em geral) velhos paradigmas deram lugar a novos paradigmas, aquilo que era verdade numa época foi refutado e considerado como um aburdo óbvio nas eras seguintes.

            Não seria anedótico no tempo de Galileu dizer-se que a Terra gira à volta do Sol? Era certamente considerado pela esmagadora maioria uma piada, e uma piada de muito mau gosto, já que ía contra tudo o que ideologicamente havia sido enraizado nas mentes de quem habitava aquela época. No entanto, hoje ninguém dúvida disso…

            Mas o universo é maior. Maior que a Terra, maior que o sistema solar. Maior e mais complexo. E é por isso que eu fujo de verdades inquestionáveis, e prefiro manter a minha mente aberta e em constante movimento.

            Porque “sempre que o homem sonha, o mundo pula e avança”, e aquilo que é considerado “surreal” e até “anedótico” hoje, num determinado contexto espacial e temporal, pode ser tão simplesmente a dúvida que faz nascer o amanhã. A dúvida pequenina mas viva e inquietante, a dúvida do desassossego, a dúvida de uma curiosidade sem fim, que não pára, que não termina, que salta de lés a lés e que é a mais genuína propulsora da mudança neste mundo.

            Desejo-vos a todos muitas dúvidas, porque de “certezas” está o céu cheio, e como dizia o título do livro: “As meninas boas vão para o céu, as más vão para todo o lado.”

            Que as vossas dúvidas vos levem para todo o lado!

            Bem hajam!

            A Sousa

          2. Cara A. Sousa

            Agradeço o seu comentário e lerei com atenção o documento que indica, mas deixo já claro que tenho algumas reticências com o termo pós-moderno, já que se refere a um contexto histórico-cultural que largamente abusou da ideia do relativismo.

            Queria, no entanto, fazer algumas questões quanto aos seus argumentos.

            A medicina claramente evoluiu. Não estou a colocar isso em questão. Mas não percebo o que entende por “métodos imparciais”. Não entendo, porque pelos seus comentários seguintes, parece apresentar a imparcialidade como algo negativo.

            Com certeza sabe o que é a ciência – e parafraseando Steven Novella, – a ciência um processo sistemático que consiste na observação rigorosa de um fenómeno e no uso de lógica consistente para avaliar os resultados.

            Por esta razão, não percebo porque razão os “métodos imparciais” possam ser questionáveis. Existe uma quantidade de viés e erros de percepção que toldam a nossa avaliação. E é por esses motivos que se recorre a este processo, para eliminar os erros subjectivos de quem faz a avaliação. Estarei a perceber bem o seu argumento e prefere que esses erros definam a análise?

            Não sei onde retirou a ideia de que a Medicina actual age como se aquilo que é válido para uns, é válido para todos. A verdade é que partilhamos a mesma biologia e a mesma fisiologia, mas existem bastantes diferenças entre indivíduos, como bem indicou.

            Existem indivíduos que não reagem à vacinação. Existem indivíduos que reagem mal a uma determinada vacina. Mas em medicina o balanço é sempre feito entre benefícios e riscos e os benefícios da vacinação largamente ultrapassam os riscos.

            Os seus argumentos seguintes, da causa única para um mal e trata apenas dos sintomas parece um argumento “espantalho”.

            Em primeiro lugar, uma determinada condição pode ter uma causa única, mas outras condições podem ter várias. Um exemplo de causa única é uma infecção por um vírus. Daí, o melhor nem sequer é o tratamento, mas sim a vacina (se existir) para prevenir a infecção.

            Em segundo, a ideia que só se tratam os sintomas, sem se procurar a raíz do problema, não faz qualquer sentido. Por exemplo, quando se usam antibióticos é com a intenção de eliminar as bactérias que causam a infecção, não é apenas para aliviar um sintoma.

            Acho muito irónico, mas não surpreendente, que use o exemplo de Galileu.

            Galileu, por muitos considerado o primeiro cientista, estabeleceu que a Terra gira em torno do Sol contra a opinião popular e religiosa que era o sol que girava em torno do nosso planeta. Para demonstrar que as suas observações estavam correctas usou aquele método que A. Sousa tanto despreza: o método científico. O caso de Galileu é bastante paradigmático de como o processo científico é válido, não o contrário.

            A dúvida metódica faz parte do processo científico. E é por isso que a ciência usa o tal método rigoroso que mencionei no início. E o que faz, é questionar essas mentes brilhantes e ver se elas não se estão a enganar a si próprias. Às vezes estão erradas, noutras estão certíssimas e são validadas pela ciência.

            Quanto ao manter a mente aberta, conhece outro processo que mantém a mente aberta ao ponto de se auto-corrigir?

  2. Caro Sr. L. Abrantes,

    Não irei esgrimir argumentos consigo, já há quem o faça mais preparado que eu.

    Com a intenção de enriquecer o debate, optarei, se me permite, por alertar para vários equívocos relativamente a quem questiona este dogma.

    • Não, eu NÃO desrespeito a opção pela vacinação. Acho-a, aliás, bastante lógica e compreensível
    • Não, eu NÃO desprezo a Investigação Médica, a Medicina, os Médicos, os Enfermeiros ou os hospitais. A Vacinação é apenas um de muitos temas
    • Não, eu NÃO deixo de utilizar o sistema de saúde (ou fármacos) de uma forma perfeitamente normal só porque a vacinação me levanta dúvidas
    • É MUITO mais difícil para mim discordar da vacinação do que concordar com ela. A meu ver, este facto deveria por si só criar alguma curiosidade nos ditos “pró”, o que não costuma suceder
    • Eu NÃO me acho mais sábio que um Médico-Cientista, somente consulto Médicos com opiniões opostas
    • Eu NÃO consumo somente informação anti-vacinação, antes pelo CONTRÁRIO, Procuro permanentemente duas coisas do lado da pró-vacinação:
    o Argumentos que possam rebater os dos “anti”
    o Dados OFICIAIS que favoreçam a posição contrária
    • Eu conheço o fundamento, o funcionamento e composição das vacinas e reconheço os seus méritos e as suas vantagens em casos particulares. Questionar o benefício da vacinação incessante, falível, massiva e para toda e qualquer doença é totalmente outra questão

    1. Caro Pedro,

      Pode explicar o que quer dizer com “vacinação incessante, falível, massiva e para toda e qualquer doença”?

      1. Boa tarde,

        Incessante e massiva..mais doenças, mais cedo, mais misturadas e a mais gente. Falível, como demonstram os registos oficias das consequências. Qualquer fármaco é falível e eu aceito essa condição, mas a taxa de ocorrência tem de ser aceitável perante o benefício prometido.

        Permita-me um aparte, até porque somos sempre olhados de lado e sob muitos preconceitos, quero transmitir-lhe o meu apreço pela sua abertura para uma discussão correta entre duas opiniões diametralmente opostas.

        1. Caro Pedro,

          As vacinas protegem o indivíduo e a comunidade de um determinado número de doenças infecto-contagiosas, não para todas e qualquer doença. A vacinação não é 100% eficaz, mas para muitas doenças a sua eficácia está acima dos 90%. Tem sido o facto de termos mantido índices de vacinação acima dos 97% que quase conseguimos eliminar as doenças que são prevenidas por vacinas.

          Os registos oficiais apontam para redução quase total das doenças que são prevenidas por vacinas. Graças à vacinação massiva, incessante, e a toda a gente, eliminámos uma das doenças mais mortíferas da história. Poderíamos eliminar muito mais se não houvesse um movimento pro-doença empenhado em regressar ao passado. As consequências das vacinas, são menos hospitalizações, menos mortes, menos sequelas.

          Acabámos por passar por um surto de sarampo, a Europa e os EUA continuam a acumular casos e mortes por uma doença que estava quase controlada. A responsabilidade dessas mortes cabe toda nas mãos do movimento anti-vacinas.

          Este artigo tem 4 anos, desmonta um vídeo de propaganda que afirma, sem qualquer fundamento, que as vacinas são não são benéficas, que têm graves consequências e que as doenças que previne não são perigosas. Diz que tem apreço pela minha abertura para a discussão, mas pergunto-lhe, acha que esta discussão vai a algum lado, onde um dos interlocutores insiste no mesmos argumentos vezes sem fim e sem que faça um esforço para compreender ou refutar os argumentos do outro lado?

          Cumprimentos

  3. «É isso que é verificado em estudos com animais.» A sério? E a investigação clínica e epidemiológica, o que diz? Não conta? Uma pessoa que dedica a vida à ciência, escreve para um site sobre cepticismo cujo objectivo é denunciar a pseudo-ciência, e valida o seu argumento com base na maior fraude científica de que há memória (experimentação animal, está claro), ao invés de recorrer a investigação digna desse nome (sobre os efeitos perniciosos do alumínio na saúde humana não deverá faltar informação), não merece uma ponta de credibilidade. Aliás, o facto de a COMCEPT não falar em experimentação animal (pelo menos no site só o faz de raspão e de forma ridícula; não sei se o faz no livro) mostra que algo vai mal no seu cepticismo.

    Apesar de concordar com a maioria do que a COMCEPT diz, os seus textos são de tal forma manhosos e tendenciosos que, como organização, não é mais credível do que a Sociedade da Terra Plana. Li muita coisa nos vossos artigos que considero ser verdade, o que não li foi fundamentação meritória das vossas opiniões. Tudo gente do mundinho deplorável das academias, da investigação e do «publish or perish».

    Vocês não são defensores da verdadeira ciência, são os cães-de-fila de uma ciência oficial, ortodoxa, doente, veiculada pela imprensa e por livrinhos de divulgação científica, validada por hordas políticas cientificamente incultas e uma opinião pública afeita a modas. Não compro o vosso livro, porque me merece, a piori, tanta credibilidade como um manual para construir antenas para limpar a poluição atmosférica ou uma dissertação sobre a memória da água.

    1. Caro Daniel,
      Encontrei o seu comentário no spam e só após o seu email é que consegui responder.

      «É isso que é verificado em estudos com animais.» A sério? E a investigação clínica e epidemiológica, o que diz? Não conta? Uma pessoa que dedica a vida à ciência, escreve para um site sobre cepticismo cujo objectivo é denunciar a pseudo-ciência, e valida o seu argumento com base na maior fraude científica de que há memória (experimentação animal, está claro), ao invés de recorrer a investigação digna desse nome (sobre os efeitos perniciosos do alumínio na saúde humana não deverá faltar informação), (…)

      De que maneira a experimentação animal é a maior fraude científica de que há memória? Pode elaborar?
      Quanto aos efeitos perniciosos do alumínio na saúde humana, nomeadamente na sua utilização como adjuvantes nas vacinas, a sua certeza com “não deverá faltar informação” sem fundamentar com dados entra em contradição com o que escreve a seguir sobre a actividade da Comcept.

  4. Tendo desenvolvido toda a minha experiência profissional fora do mundo académico e estando habituado a pesquisar sobre os mais variados assuntos, ao ler certos textos sobre Ciência deparo-me frequentemente com os tristes vícios da tradição académica.

    A Comcept tem trabalho meritório no esclarecimento de uma série de fraudes que por aí andam. Coisas elementares cuja compreensão, muito francamente, nem sequer exige formação superior. Mas quando entra em áreas como as alterações climáticas ou as vacinas, logo os vícios se fazem notar.

    No mundo académico, quem quer discutir assuntos de outras áreas tem tendência a aceitar facilmente o que dizem ou escrevem os colegas que se dedicam às mesmas (principalmente os que conhecem pessoalmente), pela simples razão de que também não gostam que alguém conteste o seu próprio trabalho. Quando não respeitada, esta cumplicidade tácita descamba. Em polémicas com visibilidade pública, quem não cumpre com a regra é facilmente ostracizado com as mais variadas acusações.

    No caso das vacinas, como noutros temas, a Comcept entrou no assunto pela porta oficial, porque sendo liderada por académicos com visibilidade pública a discutir uma polémica igualmente pública, nem por sombras teria coragem de abordar imparcialmente posições antagónicas. O resultado estava, por isso, escolhido à partida e o que interessava era arranjar uma forma de o legitimar.

    O que fez L. Abrantes?

    Primeiro problema: não escreveu nada que já não tivesse sido dito. Sendo o problema desta polémica a profusão de informação antagónica, só tinha de procurar as melhores referências, classificá-la e ordená-la de uma forma lógica, escrevendo apenas o necessário para orientar o leitor. Seria mais didáctico e não teria contribuído mais para o caos de informação nesta questão.

    Segundo problema: para o argumento antivacinação, arranjou um vídeo que ninguém no seu perfeito juízo vai ver (tentei alguns no passado, mas sempre sem sucesso – talvez porque fossem todos iguais e medíocres). Para o argumento pró-vacinação, além do «cherry picking», escolheu informação de abrangência e importância heterogéneas.

    Terceiro: o artigo está cheio de referências jocosas para ridicularizar a oposição. Por exemplo, logo no 4.º parágrafo refere jocosamente a «conspiração» (de facto, todos sabemos o quão impoluta é a indústria farmacêutica, como deu para ver pela trapaça da gripe das aves), e que «se está no Youtube é porque é verdade!», o que não percebi de todo. Recorro frequentemente ao Youtube para esclarecer certos assuntos e encontro vídeos científicos soberbos.

    Quarto: acusa (correctamente) o vídeo de sofrer de problemas que se aplicam perfeitamente a muita propaganda pró-vacinação que já vi (por exemplo, de recorrer às emoções, de argumentar de forma intrincada e de falhar no suporte documental).

    Continuando, argumenta correctamente em alguns casos e não noutros, mas não vou analisar detalhadamente, porque o problema é outro e de fundo: L. Abrantes não entende aquilo que, seguramente, a maioria das pessoas também não: os argumentos antivacinação têm frequentemente um carácter cronológico que é transposto de forma descuidada para outras situações, enquanto que o movimento pró-vacinação tem mais tendência a referir-se-lhe em termos vagos e a contrapor informação recente. É uma mistura de alhos e bugalhos que torna a discussão estéril.

    Quando a vacinação moderna começou (refiro-me a Jenner, deixando portanto de lado todo a história prévia), houve a desaprovação firme de parte da comunidade médica (e não estou a falar da ala homeopática, que é a sugerida pela Comcept como o colo dos maluquinhos antivacinação). Houve a contribuição independente de Edwin Chadwick (Inglaterra) e Lemuel Shattuck (Estados Unidos) para a melhoria das condições de salubridade das populações, o que teve como resultado a queda da incidência de várias doenças antes da introdução das vacinas. Houve epidemias provocadas por vacinas e houve epidemias independentemente do grau de vacinação da população (nem sempre foi possível perceber se aconteceu uma coisa ou outra). Houve a contribuição das vacinas para a introdução de doenças em zonas de baixa incidência das mesmas. Houve o esforço de Jenner para manter o negócio a rodar. E houve denúncias disto tudo na literatura médica e na imprensa, até hoje.

    Mas será este o único ponto de vista possível?

    Acontece que se as vacinas tivessem sido inventadas hoje, o desenvolvimento científico, o rigoroso controlo das condições de fabrico e o igualmente rigoroso controlo de armazenamento (três factores que muito falharam até bem adentro do século XX) diminuiriam seguramente os riscos de as vacinas provocarem as doenças que seria suposto evitarem, bem como dos efeitos secundários. Mas, da mesma forma, as condições de salubridade em que as populações no mundo desenvolvido vivem é o principal antídoto para os surtos e epidemias do passado, o que nos leva à questão de saber se no terceiro mundo precisam de gastar dinheiro em vacinas ou em habitação limpa, comida, saneamento, água potável e educação. Mas isso é algo que, reconheço, em muitas zonas do mundo não se pode usufruir facilmente pelos mais variados motivos.

    Tendo lido muito sobre o movimento anti-vacinação há uns 20 anos atrás, e tendo na altura consultado muita informação na Internet, devo admitir que a falta de rigor do que li na altura era gritante em ambos os lados do debate, e das poucas vezes que procurei depois disso o panorama não era melhor.

    Gostaria aqui de deixar a sugestão para aquela que considero a discussão mais séria sobre história da vacinação que li até hoje, e que tem a enorme vantagem de possuir algumas referências muito antigas:

    Sharpe, Dr Robert: The Cruel Deception: The Use of Animals in Medical Research, Thorsons Publishers Limited, 1988 (pp. 21-41, 191-6).

    Finalmente, e respondendo às suas perguntas: a experimentação animal fica para outra altura e o seu desenvolvimento será deixado na caixa de comentários das ridículas linhas com a ridícula fotografia e o ridículo link que a Comcept publicou. Dado que tenho algo a acrescentar de novo à argumentação do costume, não serão só referências. Se até lá achar que vale a pena — e tenho tendência para pensar o contrário.

    Quanto à tal questão do alumínio, a não ser que L. Abrantes tenha por costume recorrer a veterinários para resolver os seus problemas de saúde, ou considere que desenvolver artificialmente em seres humanos doenças de outras espécies produz resultados extrapoláveis para as vacas, os cães, os ratos, as sardinhas ou os pombos (sim, é verdade, a idiotice chega ao ponto de se usarem peixes e aves como modelo humano), não estou a ver de que forma o inverso possa ser feito. Aconselho-a a perguntar ao autor do artigo sobre experimentação animal para o qual a Comcept carinhosamente remete (e que, de tão científico e rigoroso que é, acabou trucidado sem esforço na caixa de comentários).

    Quanto a artigos baseados em estudos clínicos sobre o alumínio em adjuvantes de vacinas, mais de duas décadas de pesquisa destas e de muitas outras questões científicas das mais variadas áreas permite-me saber de antemão e olhos fechados que é impossível, neste assunto específico e central, não existirem dados clínicos em seres humanos, bem como outros que, sendo puramente laboratoriais, não foram obtidos com recurso à experimentação animal. Não fui eu que cometi a argolada, mas a autora, ao incorrer no vício académico de legitimar resultados com base na experimentação animal e ignorando outras fontes. Vai-me poupar ou não à necessidade de listar 10 ou 15 artigos de uma penada sobre o assunto (foi o que posteriormente encontrei nos primeiros 10 segundos de pesquisa, só para lhe poder dizer que não estava a falar de cor)?

    1. Caro Daniel,

      Primeiro problema: não escreveu nada que já não tivesse sido dito. Sendo o problema desta polémica a profusão de informação antagónica, só tinha de procurar as melhores referências, classificá-la e ordená-la de uma forma lógica, escrevendo apenas o necessário para orientar o leitor. Seria mais didáctico e não teria contribuído mais para o caos de informação nesta questão.

      O artigo tem vários anos. Foi escrito em 2013 e é uma reacção à publicação do documentário num blog com alguma visibilidade na altura. Desconheço se o documentário já tivesse sido desmontado à altura em que o artigo foi publicado. Se sim, realmente é pena, pois não teria perdido tanto tempo a tentar encontrar referências (ausentes no documentário) e a tentar refutar as alegações que são feitas nele.

      Acho curioso que ache que tenha sido simples procurar as melhores referências e ordená-las de forma lógica, em particular, porque nem sequer se deu ao trabalho de ver o documentário em questão.

      Terceiro: o artigo está cheio de referências jocosas para ridicularizar a oposição. Por exemplo, logo no 4.º parágrafo refere jocosamente a «conspiração» (de facto, todos sabemos o quão impoluta é a indústria farmacêutica, como deu para ver pela trapaça da gripe das aves), e que «se está no Youtube é porque é verdade!», o que não percebi de todo. Recorro frequentemente ao Youtube para esclarecer certos assuntos e encontro vídeos científicos soberbos.

      A ironia é realmente difícil de transmitir via internet. No entanto, e sem ironia, o facto de um vídeo existir num qualquer canal seja televisivo, seja na internet não lhe confere validade automaticamente, tão pouco serve de argumento como sistematicamente vários comentadores insistem em fazer (ver sucessivos links para vídeos do youtube como resposta a artigos na Comcept). Para muitos assuntos, existem fontes mais fidedignas que documentários no youtube/tv por mais bem feitos que tenham sido feitos.

      Quarto: acusa (correctamente) o vídeo de sofrer de problemas que se aplicam perfeitamente a muita propaganda pró-vacinação que já vi (por exemplo, de recorrer às emoções, de argumentar de forma intrincada e de falhar no suporte documental).

      Como por exemplo?

      Quando a vacinação moderna começou (refiro-me a Jenner, deixando portanto de lado todo a história prévia), houve a desaprovação firme de parte da comunidade médica (e não estou a falar da ala homeopática, que é a sugerida pela Comcept como o colo dos maluquinhos antivacinação). Houve a contribuição independente de Edwin Chadwick (Inglaterra) e Lemuel Shattuck (Estados Unidos) para a melhoria das condições de salubridade das populações, o que teve como resultado a queda da incidência de várias doenças antes da introdução das vacinas. (…)

      O Daniel está a fazer confusão. Edward Jenner implementou realmente a primeira vacina – contra a varíola. Uma doença que foi erradicada graças a vacinação.

      Chadwick e Shattuck fazem parte de outro movimento que está muito associado aos esforços higiénicos e sanitários que tiveram como alvo outro tipo de doenças, como a febre tifóide, por exemplo. Esse movimento está relacionado com o aumento da população das cidades e do desenvolvimento industrial e capitalista. Esses esforços foram feitos ao longo de vários anos chegando até ao século XX. Partem de vários princípios, mas coincidem igualmente na concepção destas doenças como contagiosas (não sem muitas polémicas e ideias contraditórias à mistura), mas que conseguiram vingar graças à lenta aceitação do conceito de germes e ao modo como estes podem ser nocivos.

      Houve epidemias provocadas por vacinas e houve epidemias independentemente do grau de vacinação da população (nem sempre foi possível perceber se aconteceu uma coisa ou outra). Houve a contribuição das vacinas para a introdução de doenças em zonas de baixa incidência das mesmas. Houve o esforço de Jenner para manter o negócio a rodar. E houve denúncias disto tudo na literatura médica e na imprensa, até hoje.

      Que epidemias? Que doenças? É que se não especifica, não vamos a lado nenhum. Por exemplo, a vacinação (de Jenner) coincidiu no tempo com uma prática anterior, a variolização, com um alto risco de contágio. Também é importante dizer que as campanhas de vacinação foram sempre limitadas, tanto por falta de meios, como também por resistência das populações. Em Portugal demorou imenso tempo até existir uma campanha séria de vacinação antivaríolica. Ela só acontece na segunda metade do século XX.

      Quando fala de Jenner e manter o negócio a rodar, pode especificar ao que se refere? Agradeço que indique as referências.

      Acontece que se as vacinas tivessem sido inventadas hoje, o desenvolvimento científico, o rigoroso controlo das condições de fabrico e o igualmente rigoroso controlo de armazenamento (três factores que muito falharam até bem adentro do século XX) diminuiriam seguramente os riscos de as vacinas provocarem as doenças que seria suposto evitarem, bem como dos efeitos secundários. (…)

      A vacina de Jenner foi inventada no final do século XVIII. Com toda a certeza se formos avaliar o processo como a investigação e a produção da vacina antivaríolica durante os primeiros anos à luz da ética e do rigor sanitário, teríamos vários pontos a apontar. Mas felizmente a produção da vacina antivaríolica ao longo do século XX não seguiu os mesmos moldes que no século XVIII ou XIX. Mas se for consultar a documentação em torno das primeiras campanhas de vacinação antivaríolica no nosso país, talvez se surpreenda com o rigor e com a consciência que as pessoas tinham em questão de eficácia e perigo de contágio nessa altura.

      Mas, da mesma forma, as condições de salubridade em que as populações no mundo desenvolvido vivem é o principal antídoto para os surtos e epidemias do passado, o que nos leva à questão de saber se no terceiro mundo precisam de gastar dinheiro em vacinas ou em habitação limpa, comida, saneamento, água potável e educação. Mas isso é algo que, reconheço, em muitas zonas do mundo não se pode usufruir facilmente pelos mais variados motivos.

      Daniel, leu o artigo? Não parece, já que nem sequer faz qualquer relação com o que está escrito.

      (…) Vai-me poupar ou não à necessidade de listar 10 ou 15 artigos de uma penada sobre o assunto (foi o que posteriormente encontrei nos primeiros 10 segundos de pesquisa, só para lhe poder dizer que não estava a falar de cor)?

      O problema parece ser esse. É que para fundamentar alguma coisa não serve uma procura de 10 segundos no google, muito menos sem verificar o que diz cada um dos artigos.

      Cumprimentos

  5. «Acho curioso que ache que tenha sido simples procurar as melhores referências e ordená-las de forma lógica»

    É bem claro na minha resposta que o que critiquei foi a sua metodologia, não o seu esforço.

    «em particular, porque nem sequer se deu ao trabalho de ver o documentário em questão».

    Já expliquei. Posso aprofundar, mas parece-me desnecessário.

    «A ironia é realmente difícil de transmitir via internet.»

    Nem por isso. Percebi perfeitamente aonde quis chegar.

    «o facto de um vídeo existir num qualquer canal seja televisivo, seja na internet não lhe confere validade automaticamente»

    Concordo inteiramente, mas acrescento: nem tão pouco o que é publicado nas revistas académicas mais reputadas.

    «Para muitos assuntos, existem fontes mais fidedignas que documentários no youtube/tv por mais bem feitos que tenham sido feitos.»

    Não vou pedir que explique quais são os «muitos assuntos», porque é irrelevante. A fidedignidade da informação não depende do suporte utilizado, mas sim do rigor com que é pesquisada, seleccionada, apresentada e discutida.

    Quanto ao Youtube, hoje em dia é utilizado por profissionais e empresas de todo o mundo para partilhar informação nas mais diversas áreas. E, já agora, também é utilizado por académicos. Se na sua área específica serve para pouco ou nada, tem muito azar.

    «”Quarto: acusa (correctamente) o vídeo de sofrer de problemas que se aplicam perfeitamente a muita propaganda pró-vacinação que já vi (por exemplo, de recorrer às emoções, de argumentar de forma intrincada e de falhar no suporte documental).”

    Como por exemplo?»

    Como, por exemplo, a primeira referência do seu artigo.

    «O Daniel está a fazer confusão. Edward Jenner implementou realmente a primeira vacina – contra a varíola.»

    Não fiz confusão. Percebo o que quero dizer, dado que foi Jenner que inventou a palavra «vacina», mas a questão é, do ponto de vista científico, puramente semântica.

    Uma curiosidade: Jenner não foi o primeiro a utilizar a varíola bovina para inoculação (Edward Jenby e Jacques-Antoine Rabaut-Pommier fizeram-no primeiro). Portanto, não foi o inventor daquilo a que depois chamou «vacina».

    «Uma doença que foi erradicada graças a vacinação».

    Nenhuma vacina é causa única para a erradicação de uma doença. Pode, isso sim, contribuir em maior ou menor grau, juntamente com outras medidas.

    «Chadwick e Shattuck fazem parte de outro movimento que está muito associado aos esforços higiénicos e sanitários que tiveram como alvo outro tipo de doenças, como a febre tifóide, por exemplo.»

    Não consigo imaginar que as medidas propostas por Chadwick e Shattuck não tivessem como alvo todas as doenças que por elas pudessem ser prevenidas.

    «mas que conseguiram vingar graças à lenta aceitação do conceito de germes e ao modo como estes podem ser nocivos.»

    O trabalho de Chadwick foi implementado a curto prazo, independentemente do desenvolvimento da teoria dos germes. O trabalho de Shattuck não teve implementação imediata (apesar de os resultados de Chadwick serem publicamente conhecidos nos EUA), mas por várias causas que também não estão relacionada com a aceitação da teoria dos germes. A propósito deste último, a única discussão aprofundada que conheço sobre a não implementação do trabalho de Shattuck pode ser encontrada em:

    https://ir.uiowa.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=5070&context=etd (pp.16-22)

    Nos parágrafos seguintes, pede-me duas vezes referências. Na primeira mensagem tive o cuidado de referir o texto que considero o melhor resumo sobre este assunto (incluindo as respectivas referências).

    «a vacinação (de Jenner) coincidiu no tempo com uma prática anterior, a variolização, com um alto risco de contágio.»

    Os riscos associados à vacina de Jenner foram, como bem sabe, um dos fundamentos para a oposição inicial às vacinas.

    E dado que estamos a falar da varíola, vacina e riscos – e os riscos da vacinação são sempre aquilo que o lado pró-vacinação gosta de aligeirar (nunca explicando como é que se pode separar de forma tão marcada a vacinação das restantes causas de iatrogénese, que se tornou um peso considerável nos sistemas de saúde modernos), proponho a leitura do seguinte artigo:

    http://www.clinmedres.org/content/1/2/87.long

    E, da mesma forma, considero pertinente uma compreensão mais aprofundada do problema da interpretação das fontes históricas sobre a varíola:

    https://academic.oup.com/jhmas/article-abstract/42/2/147/708565?redirectedFrom=fulltext

    «Também é importante dizer que as campanhas de vacinação foram sempre limitadas, tanto por falta de meios, como também por resistência das populações.»

    E a resistência das populações deveu-se a…?

    «Daniel, leu o artigo? Não parece, já que nem sequer faz qualquer relação com o que está escrito.»

    Não entendo porque não percebeu aonde queria eu chegar.

    «O problema parece ser esse. É que para fundamentar alguma coisa não serve uma procura de 10 segundos no google, muito menos sem verificar o que diz cada um dos artigos.»

    Propus-me demonstrar que havia informação baseada em estudos clínicos, e assim o fiz. Se é ou não conclusiva (pelo que pude perceber, não é), é irrelevante. Poderia até nem existir. Ter dados baseados em animais continuaria a não servir, ao contrário do que sugeriu. Da mesma forma que se o seu carro funcionar com gasolina e esta lhe faltar longe de um posto de abastecimento, ter à mão uma cisterna com gasóleo não lhe resolve o problema.

    Quanto à questão do Google, escolheu a pessoa errada para alvo da sua condescendência académica. Não utilizei o Google (nem sequer o Google Scholar, porque não filtra os artigos de revistas predatórias). Estou habituado, por necessidade profissional e interesse pessoal, a pesquisar e a triar informação proveniente de bases de dados científicas, pelo que o seu comentário é francamente dispensável.

    Para terminar: em todo o mundo, profissionais das mais diversas áreas produzem diariamente informação de elevada qualidade baseada no seu conhecimento, experiência e investigação, e que só pode ser encontrada por motores de busca genéricos. E, fora da academia, haverá sempre imensa gente a avaliá-la com rigor e proveito.

  6. Bom o artigo. Entretanto, ainda que hajam os que sejam anti-vacina, no Brasil as pessoas correm pra as campanhas de vacinação e até pagam, mesmo não estando em grupos de risco. Acredito que seja o único equívoco que encontrei.

  7. Em Abril de 2018 enviei uma resposta à refutação de L. Abrantes ao meu comentário de Março de 2018. Dado que o mesmo não foi publicado, em Agosto de 2018 informei L. Abrantes por e-mail, mas não recebi resposta.

  8. Entretanto, continuo à espera da publicação da minha resposta desde 2018, depois de duas promessas por e-mail, um e-mail ignorado e uma mensagem pelo Facebook também ignorada. Assim se vê a honestidade da comunidade «céptica», que não é mais do que um espelho da comunidade académica, onde é hábito suprimir opiniões contrárias. Infelizmente, a minha memória é longa.

    1. Olá Daniel, lamentamos a demora na publicação dos seus comentários, mas os mesmos não são imediatamente visíveis no nosso backoffice para os irmos aprovar, principalmente os comentários em textos mais antigos. Por exemplo, para encontrar o texto a que se referia tive de fazer uma procura por palavras-chave.

      Permita-me corrigi-lo num aspecto: nem a comunidade científica nem a comcept suprime opiniões contrárias em debates sérios. Pode é avaliar a pertinência de responder aos mesmos.

      O que aconteceu neste caso foi não encontrarmos de imediato o seu comentário, facto que já foi corrigido.

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