Chemtrails – uma conspiração sem asas para voar

A teoria dos chemtrails é uma conspiração tão absurda e implausível que simplesmente não tem asas para voar
Boeing 747 a 11 quilómetros de altitude. Crédito: Sergey Kustov.
Boeing 747 a 11 km de altitude. Crédito: Sergey Kustov.

Se é sensato não confiar cegamente no governo e nas suas entidades, será também sensato rejeitar todas as afirmações apenas por serem do governo ou outras entidades estatais? Talvez devêssemos ir mesmo para a praia nas horas de maior exposição solar e, de preferência, procurar a sombra de uma arriba, sabe-se lá o que eles estarão a tentar esconder!

Se é sabido que já existiram verdadeiras conspirações no mundo, desde a implantação da República Portuguesa até ao famoso caso Watergate, será então correcto assumir que todas as teorias da conspiração que ouvimos estão por defeito correctas? Quantas teorias da conspiração já se tornaram em conspirações reais? Onde se traça a linha entre o cepticismo saudável e a paranóia irracional?

Aparentemente existem pelo menos 6300 pessoas em Portugal (serão mais em todo o mundo e especialmente nos EUA onde tudo começou) que acreditam que o(s) governo(s) e/ou outras organizações obscuras andam a espalhar químicos no ar com o auxílio de aviões comerciais, militares ou outros (depende dos gostos). E pelo menos 1767 querem que o governo português explique qual o objectivo de algo que não há motivo nenhum para acreditar que sequer exista – uma exigência já de si escusada, mas que se torna ainda mais inútil tendo em conta que uma resposta por parte do governo, a existir, será imediatamente descartada pelos teóricos da conspiração como fazendo parte do encobrimento.

ChemtrailLeaks

Irrita-me constantemente que as pessoas sejam distraídas por falsas conspirações como a do 11 de Setembro, quando nós providenciamos evidências de conspirações reais em todo o lado, desde a guerra até à fraude financeira em massa. – Julian Assange, Fundador do WikiLeaks.

De acordo com os extensos conhecimentos de física dos activistas e do Tugaleaks, isto só pode significar que os pilotos andam bêbados. Crédito: Stankot.
De acordo com os extensos conhecimentos de Física dos activistas e do Tugaleaks, isto só pode significar que os pilotos andam bêbados. (Contrail sinuoso na Polónia). Crédito: Stankot.

E nós sabemos que o assunto tem de ser bastante grave quando o Tugaleaks entra em acção para apurar a verdade dos factos. Afinal, alguém que criticou (e muito bem) a TVI e o Correio da Manhã por copiarem uma notícia falsa de um site humorístico brasileiro sem investigarem a fonte original, não cairia no erro de reproduzir uma notícia falsa de um site humorístico russo só porque tal lhe foi dito por activistas anti-chemtrails vítimas da Lei de Poe. Quem nos acompanha regularmente, o que não deve ser o caso do Tugaleaks, já deve ter tido a oportunidade de conhecer a especial ênfase que estes activistas colocam na distinção entre factos e especulações, bem como no apuramento da credibilidade das suas fontes. Especial, no sentido de ser nula… Ainda assim, mesmo que o mero rótulo de activista tornasse alguém numa fonte acima de qualquer suspeita, seria de pensar que o Tugaleaks procurasse apurar a origem da notícia, quanto mais não seja «pela verdade da informação». Mas prossigamos.

Perante as inquietações do activista Carlos, nome fictício, sobre «os aviões que ‘passeiam’ nos nossos céus e que fazem sei lá o quê […]» [o negrito é meu], o Tugaleaks decidiu pedir esclarecimentos ao Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Claramente um acto de extrema coragem e perigosidade ou não sentissem os activistas a necessidade de ocultarem o seu nome. Extraordinariamente, a Divisão de Previsão Meteorológica, Vigilância e Serviços Espaciais desta entidade gastou de facto tempo a responder à pergunta (ficaram nervosos!). A resposta? Aquilo que já sabíamos: os rastos químicos (chemtrails) não existem, ou melhor, os chemtrails são na realidade simples rastos de condensação de água (contrails).

Numa situação normal o assunto teria ficado por aqui, mas tudo muda depois de se emborcar um frasco de pílulas vermelhas adulteradas. A resposta do IPMA é descartada como já sendo «esperada», isto é, como parte do encobrimento (que surpresa!) e o próprio Tugaleaks põe em dúvida a resposta porque tirou três fotografias no Algarve «onde se pode perceber pela forma do “rasto” que é pouco provável ser uma nuvem» – uma amostra do melhor que a “ciência” dos chemtrails tem para nos oferecer – olhómetros e intuições.

A tretalogia dos Chemtrails

Quando um homem honesto fala, diz apenas o que acredita ser verdade; da mesma forma, para o mentiroso é indispensável conceber o que diz como falso. Para o treteiro, todavia, nada disto importa: não está nem do lado do verdadeiro nem do lado do falso. Não encara sequer os factos, ao contrário do que fazem o homem honesto e o mentiroso, a não ser no caso de serem pertinentes para levar a sua avante. Não quer saber se as coisas que diz descrevem a realidade de forma correcta. Apenas as usa, ou as inventa, para satisfazer o seu propósito.” – Harry G. Frankfurt (Filósofo), Ensaio Da Treta (On Bullshit)

O João Monteiro já fez um óptimo e bastante acessível trabalho de explicar o que são e como se formam os contrails e porque não há nenhum motivo para acreditar que os supostos chemtrails sejam diferentes de contrails para além da simples recusa em encarar a realidade. Não obstante, gostaria de voltar a tocar nos argumentos mais populares, quanto mais não seja, para deixar bem claro o total desprezo que os teóricos da conspiração nutrem pela verdade que dizem procurar. Além do mais, falar de todos os argumentos num único texto é difícil já que o seu número é apenas limitado pela corrente de desculpas ad hoc que impede a teoria de colapsar.

Contrails resultantes dos gases de exaustão. Crédito: Joe Thomissen
Contrail resultante dos gases de exaustão. Crédito: Joe Thomissen

Os contrails mais comuns formam-se quando a mistura de ar quente e húmido expelida pelos reactores dos aviões se encontra com o ar frio circundante, as partículas de aerossóis resultantes da combustão funcionam como núcleos de condensação, causando a formação de gotículas de água que se transformam rapidamente em gelo devido às baixas temperaturas. Outro tipo de contrails, designados de aerodinâmicos ou de vórtex, podem também formar-se devido à redução da pressão do ar que se move sobre a superfície do avião, são no entanto mais raros a altas altitudes onde as temperaturas são geralmente baixas, mas são frequentes, por exemplo, quando o avião descola ou aterra [1]. A “diferença” de aspecto entre os rastos de condensação, que os activistas entrevistados defendem ser a prova de que uns são contrails e outros chemtrails, pode ser facilmente explicada pelo dinamismo da própria atmosfera e até funcionamento dos aviões. A atmosfera está longe de ser um meio estático e homogéneo, a formação e evolução do aspecto dos contrails são influenciadas por variáveis como a temperatura, pressão, correntes de ar e humidade, condições que podem variar consideravelmente e nem sequer são idênticas às registadas no chão. O facto de um rasto de condensação ter um aspecto diferente de outro não implica que tenham composições químicas significativamente diferentes, isto é, que um seja contrail e outro chemtrail.

Contrail aerodinâmico num F/A-18C Hornet. Crédito: Jonathan Chandler.
Contrail aerodinâmico num F/A-18C Hornet. Crédito: Jonathan Chandler.

Alguns contrails podem desaparecer logo após a passagem do avião enquanto outros persistem por mais tempo. Os contrails podem deslocar-se da área onde foram formados com o vento, surgindo em zonas onde não passou nenhum avião. Dependendo da temperatura e velocidade do avião, os contrails dos gases de exaustão podem formar-se mais próximo ou mais longe dos reactores. Os contrails aerodinâmicos podem interagir com os contrails dos reactores originando distorções bizarras nos rastos através da chamada Instabilidade de Crow. Os contrails podem até dar origem a nuvens cirrus e variadas outras formas de rastos que os teóricos da conspiração afirmam ser diferentes dos contrails apenas porque sim. Na realidade, pouca diferença há, em termos de rigor científico, entre ler o futuro nas entranhas de uma galinha e tentar discernir entre contrails e supostos chemtrails a olho. Mas será sem dúvida muito mais fácil comentar fotografias com base em intuições do que, por exemplo, ter o trabalho de criar modelos matemáticos que explicam e prevêem o comportamento dos contrails e conseguir ser publicado numa revista científica com revisão por pares [1] [2]. Ou, se se for humilde o suficiente para admitir a ignorância de assuntos que claramente não se domina, ler pelo menos um dos sites educacionais da NASA onde a física e história dos contrails é explicada de forma acessível. Sim, a NASA está metida em todas as conspirações. E são tão confiantes na sua capacidade de iludir que até pedem a estudantes para observarem os céus e colaborarem com cientistas no estudo dos contrails.

Na ciência, uma das coisas que se faz para tentar estabelecer a validade de uma hipótese é tentar falseá-la para ver se ela se mantém ou não de pé. Por exemplo, a afirmação “todas as aves voam” pode ser facilmente rebatida pela simples constatação de que as galinhas são aves e não o conseguem fazer. Se uma hipótese for verdadeira, ou bastante próxima da verdade, então deverá aguentar sucessivas tentativas de refutação. Se uma hipótese não resistir a este processo, então deverá ser descartada e substituída por outra melhor, mas também simples. Esta é uma das diferenças fundamentais entre ciência e pseudo-ciência e vamos utilizá-la para analisar alguns dos argumentos mais comuns.

“Antigamente não existiam rastos de condensação”

Uma das correntes conspiratórias mais hardcore defende que todos os rastos de condensação que vemos na atmosfera são na realidade chemtrails já que não se lembram, dizem eles, de ver os rastos antes da década de 90 do século passado. Até pode ser que não se lembrem, mas o Google é nosso amigo se o soubermos utilizar e se nos preocupamos realmente com a verdade. A foto que se segue, tirada durante a Segunda Guerra Mundial (1943), mostra os contrails criados por uma formação de bombardeiros (em baixo) e caças (em cima).

Crédito: Sgt. Stanley M. Smith.
Crédito: Sgt. Stanley M. Smith.

A foto seguinte, também de uma formação de bombardeiros da Segunda Guerra [3], é interessante pois demonstra como os olhómetros e intuições podem ser enganadores. Aquilo que do chão poderia parecer um grupo de aviões a circular bastante próximos, “provando” que uns espalham chemtrails e outros não, são na verdade dois grupos a altitudes diferentes. Os aviões que se encontram no fundo da fotografia voam a uma altitude mais baixa, onde a temperatura e/ou humidade não permitem a formação de contrails.

Crédito: Ryan et al., 2011
Crédito: Ryan et al., 2011

Eu mostrei só duas fotos, mas existem muitas mais se procurarem, a Segunda Guerra Mundial foi a época áurea do interesse nos contrails, sendo possível encontrar bastantes documentos. No entanto, este é um argumento que continua a ser demasiado frequente, até porque alguns teóricos da conspiração defendem que alguém se deu ao monumental trabalho de forjar todas estas provas só para os contrariarem (estão a ver o padrão?).

“Antigamente não ficavam no ar tanto tempo”

Mais uma vez, a referência a contrails que permanecem nos céus durante horas pode ser encontrada em vários documentos históricos. Temos como exemplo este artigo de jornal de 1955 que falava dos perigos dos rastos de vapor (condensação), não por serem tóxicos, mas por facilitarem a detecção dos bombardeiros e caças pelos inimigos. Nele é descrita a existência de contrails que podem persistir no céu durante todo o dia.

Crédito: Google News.
Crédito: Google News.

E num artigo científico de 1974 intitulado “Multiple Contrail Streamers Observed by Radar” [4] é possível observar fotografias da evolução de contrails em diversas formas. A foto que se segue mostra um contrail persistente que começou a espalhar-se e deslocar-se, e um contrail acabado de formar na mesma rota aérea do anterior.

Crédito: Konrad e Howard, 1974.
Crédito: Konrad e Howard, 1974.

“Antigamente não existiam nuvens cirrus”

Nesta variante os teóricos da conspiração reconhecem que os rastos de condensação podem mudar de aspecto e até evoluir para nuvens cirrus, argumentam no entanto que todas as nuvens deste tipo são criadas intencionalmente por chemtrails, não existindo nuvens cirrus de origem natural.

Curiosamente, ou não, encontrei um livro de 1905 chamado “Cloud Studies” onde se fala e se mostra fotografias das nuvens que os teóricos da conspiração estão convencidos que não existiam. Um livro publicado apenas dois anos depois do histórico voo dos irmãos Wright, e, catorzes anos antes dos primeiros avistamentos de contrails com o desenvolvimento dos voos de alta altitude. Provavelmente mais um elaborado embuste…

Crédito: Open Library
Crédito: Open Library

“Eles andam a mexer com o clima”

As nuvens cirrus podem afectar o clima. Crédito: Simon Eugster.
As nuvens cirrus contribuem para o efeito de estufa e os contrails persistentes podem evoluir para este tipo de nuvens. (Avião com nuvens cirrus em pano de fundo). Crédito: Simon Eugster.

Entre os hipotéticos objectivos dos presumíveis chemtrails existem os clássicos como o envenenamento da população, redução da fertilidade e controlo mental – preocupações que traem as próprias origens desta teoria da conspiração – a ala mais à direita da política norte-americana que se caracteriza pelo profundo medo do controlo governamental. Mas mais recentemente surgiu uma nova hipótese que se tornou popular, a ideia de que os chemtrails são uma experiência secreta para alterar o clima, supostamente, com o intuito de corrigir o Aquecimento Global ou, alternativamente, como arma de destruição em massa (seca, tornados, etc.). É claro que, depois do encerramento do High Frequency Active Auroral Research Program (HAARP) em Maio, outro objecto de ralação para os teóricos da conspiração e que era acusado dos mesmos efeitos no clima, é expectável que esta variante se venha a tornar ainda mais popular por substituição. Não deixa de ser interessante ser possível defender que a ida à Lua é um feito tecnológico difícil de acreditar, mas que alterar drasticamente o clima global é algo tão banal quanto ligar uma máquina com poderes quase mágicos ou meter uns aviões a circular.

A modificação do clima é realmente uma área científica genuína, existe actualmente um debate na comunidade científica se será possível reverter ou pelo menos mitigar os efeitos do Aquecimento Global, mas sobretudo, se será sensato interferir (mais do que já fazemos involuntariamente) num sistema tão complexo como o clima. E existem também tentativas de desenvolver métodos que permitam prevenir tempestades destrutivas, mas até agora sem sucesso significativo. Esta é uma área que está ainda na sua infância e que cujas aplicações práticas se resumem actualmente a usos locais como a sementeira de nuvens para criar chuva (e mesmo isso está longe de ser um processo eficiente e reprodutível).

Ironicamente, depois de tantas especulações, era apenas uma questão de probabilidades até os teóricos da conspiração chegarem, pelo menos, um pouco próximo da verdade. Existem algumas evidências de que os contrails podem de facto ter influência no clima, mas o inverso, ou seja, contribuindo para o efeito de estufa [3][5][6]. Isto porque impedem a dissipação do calor da Terra como outras nuvens naturais mas, ao contrário destas, reflectem menos luz do Sol para o Espaço. No entanto, este é um efeito secundário tão intencional como quando andamos de carro e produzirmos C02. Mais uma vez, é um efeito que não é segredo, não é planeado e que é alvo de estudo pela comunidade científica. 

Falho em ver como a modificação do clima pode ser uma conspiração quando esta não é segredo algum. Mas sobretudo, para aqueles que defendem que os chemtrails servem para reverter o Aquecimento Global, falho em ver como um excelente trunfo para uma campanha eleitoral tenha de ser mantido em segredo.

“Estão todos envolvidos” – a conspiração perfeita

Se quisessem espalhar químicos secretamente que método escolhiam? Um método que deixa rastos bem visíveis nos céus durante várias horas? Se tivesse de ser mesmo por dispersão aérea, largariam os químicos a oito ou mais quilómetros de altitude dispersando-os na atmosfera até concentrações negligenciáveis? O máximo praticado na aviação agrícola são 100 metros de altitude e apenas para algumas aplicações. Como se protegem os conspiradores e os seus familiares dos efeitos tóxicos, têm um antídoto secreto? Talvez isso explique porque não se nota nada de estranho nas pessoas que regularmente são expostas aos químicos como o pessoal do aeroporto (a dose faz o veneno). Afinal, o quão complexo teria de ser este empreendimento global para funcionar?

Bem, Kyle Hill fez uma estimativa num artigo recente do Committee for Skeptical Inquiry (CSI), apenas para os EUA e sem ter em conta as diferenças de altitude entre a aviação comercial e agrícola, o que implica que os números teóricos sejam ainda maiores:

Um avião agrícola típico usa sete onças de um agente diluído em sete galões de água para cobrir um acre de terreno [cerca de 26 litros por cada 4000 m2]. […] Para 2,38 mil milhões de acres de terreno, os pilotos precisariam – para apenas uma semana de dispersão – 120 mil milhões de galões desses químicos crípticos [cerca de 454 mil milhões de litros]. Esse é mais ou menos o mesmo volume transportado em todos os petroleiros do mundo durante um ano. E tamanha quantidade de agente precisaria de um número incrível de aviões. Considerando que um grande avião como o Boeing 747 consegue transportar cerca de 250 mil libras de carga [cerca de 113 toneladas], no mínimo, o governo precisaria de arranjar quatro milhões de voos de 747 para espalhar os seus químicos em cada semana – dezoito vezes mais voos por dia que em todos os E.U.A. A não ser que um avião possa fazer múltiplos voos por dia, uma verdadeira conspiração de chemtrails necessitaria de 2700 vezes tantos 747s quantos os que foram construídos.

A isto temos de juntar toda a infra-estrutura necessária para produzir, armazenar e transportar os químicos até aos aviões, que seria também gigantesca. Bem como o envolvimento e silêncio de milhões de analistas, químicos, engenheiros, pilotos, tripulantes, controladores aéreos, militares, todos os cientistas que estudam os céus, a comunidade de fotógrafos de aviões e um rol de outros técnicos, operários e empresas subcontratadas. Tudo isto é claro, coordenado e consentido por todos os governos mundiais, incluindo os de países que são inimigos. Um mega empreendimento que humilharia a gestão de qualquer entidade governamental conhecida e das maiores corporações multinacionais.

O extraordinário nível de complexidade e número de intervenientes necessários para manter um esquema como o dos chemtrails a funcionar, é uma característica partilhada por quase todas as teorias da conspiração, desde a crença que o homem nunca foi à Lua até ao movimento anti-vacinação. Comparada com isto, a NSA parece um bando de estagiários amadores. Só que isto representa um problema: quanto mais complexa é a teoria, mas implausível se torna a conspiração, pois há simplesmente mais coisas que podem e irão de certeza correr mal.

Será possível ninguém cometer um deslize? Será possível manter tanta gente silenciada? Não há um Snowden dos chemtrails? Nem sequer um envelope com provas, deixado por alguém às portas da morte e sem mais nada a temer?! Claro que existe um punhado de ex-insiders que garantem saber aquilo que se passa em livros, programas e eventos dedicados a teorias da conspiração, especialmente se ganharem algum dinheiro com isso (uma indústria bastante desenvolvida nos EUA). Infelizmente, parecem ter saído todos meio à pressa, sem tempo para recolherem provas credíveis daquilo que dizem. Se ao menos Bradley Manning tivesse feito o mesmo

178 cectic

O governo norte-americano nem sequer conseguiu esconder um simples arrombamento a um escritório de um psiquiatra (episódio associado ao escândalo Watergate). E quando tentam abafar algo revelam uma espantosa incapacidade de lidar com a imprensa, o que cria invariavelmente um desastre político e de relações públicas. Contudo, sejamos francos, a recente “revelação chocante” de Snowden que aquilo que fazemos online não é de facto anónimo está bastante longe de configurar uma conspiração, é algo que já deveria fazer parte do senso comum e de qualquer disciplina de iniciação à informática.

A genuína pílula vermelha

Os teóricos da conspiração gostam de se promover como livres-pensadores, alguém de pensamento crítico com o único objectivo de procurar a verdade. O problema é que este é um pensamento crítico bastante selectivo, na realidade, é uma forma de pseudo-cepticismo que se caracteriza pela dúvida selectiva sobre tudo o que contradiga uma conclusão preconcebida. É o oposto de qualquer real método de investigação, pois as conclusões não são derivadas das provas, estas são escolhidas a dedo, posteriormente, de forma a suportar uma pré-conclusão. Com este tipo de metodologia torna-se fácil encontrar qualquer padrão em evidências desconexas, desde que tal permita a construção de uma narrativa superficialmente coerente. Como consequência, qualquer evidência contrária é facilmente negligenciada ou rejeitada como fazendo parte da própria conspiração.

jet_fuel2É bastante notório que a “procura da verdade” baseia-se muitas vezes quase exclusivamente em informações obtidas em fóruns/blogs de teorias da conspiração e vídeos do YouTube, o que até nem teria mal, para além do óbvio viés informativo, se existisse um verdadeiro trabalho de pesquisa que envolvesse a averiguação daquilo que as fontes originais dizem e da sua credibilidade. Como se viu na história amplamente divulgada de que a graviola é uma cura milagrosa para o cancro, a verdadeira conspiração não consistia numa tentativa de ocultação por parte da indústria farmacêutica, mas sim, numa fraude da indústria “alternativa”. Investigando as fontes originais da história foi possível chegar à conclusão de que aquilo que a história dizia não batia certo com os estudos científicos que citava com o intuito de dar um ar de credibilidade. É claro que isto dá muito mais trabalho do que se ficar pela versão da história que queremos acreditar e sobretudo, a versão que nos faz sentir especiais por estarmos entre os poucos selectos que conhecem a Verdade™.

Além disso, é difícil de acreditar que os poucos teóricos da conspiração que mudem de ideias sejam alvo de ostracização e ameaças por genuínos livres-pensadores. Afinal, esse tipo de pressão pelos pares é um comportamento bem mais característico de um culto religioso – o que poderá explicar outra característica que as teorias da conspiração partilham com a religião: a necessidade de encontrar sinais de agenticidade em tudo o que acontece. Ainda que seja uma agenticidade malévola, conhecer o plano “deles” oferece uma maior sensação de segurança do que o aparente caos que reina no mundo.

«Em Portugal as pessoas andam muito longe da realidade» – queixava-se com desilusão uma das activistas entrevistada pelo Tugaleaks. Em Portugal eu não sei, mas se procurarem no YouTube pelas palavras-chave chemtrails” e “vinegar irão encontrar quase 4000 pessoas convencidas não só de que o acto de borrifar vinagre no quintal tem influência em rastos de condensação que podem estar a uma dezena de quilómetros de altitude*, como também, que os conspiradores mais inteligentes de sempre não previram que o efeito dos seus super-químicos seria assim tão facilmente anulado. Pior do que isto só mesmo acreditar num medicamento inexistente, potenciado por uma energia ficcional, de forma a combater uma ameaça que tem tudo para ser imaginária. Se isto não é andar muito longe da realidade, então não sei o que será.

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*O motivo de tal crença é fácil de entender, a eventual dissipação dos rastos que aconteceria independentemente de se borrifar ou não vinagre, é tomada como prova de que o vinagre dissipa realmente os rastos, um erro de raciocínio mais comum do que se pensa que está na génese do pensamento supersticioso e, por consequência, de muitas das tretas que aqui falamos. Mais uma vez, como geralmente não existe qualquer tentativa de refutação da hipótese, é fácil permanecer convencido do super-poder do vinagre.

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Mais informação:

The Contrail Education Project – Um site educacional da NASA que responde a várias perguntas sobre contrails.

Contrail Science – Um site mantido pelo piloto Mick West onde são refutados vários dos argumentos da teoria dos chemtrails e com uma extensa colecção de documentos históricos e artigos científicos.

Comcept – Artigos anteriores sobre a mesma temática.

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Referências para os artigos científicos:

[1] Gierens K. et al. Aerodynamic Contrails: Phenomenology and Flow Physics. J. Atmos. Sci, 66: 217-226, 2009. doi: 10.1175/2008JAS2767.1

[2] Schumann, U. A contrail cirrus prediction model. Geosci. Model Dev., 5: 543–580, 2012. doi:10.5194/gmd-5-543-2012

[3] Ryan, A. C. et al. World War II contrails: a case study of aviation-induced cloudiness. Int. J. Climatol., 32: 1745–1753, 2011. doi: 10.1002/joc.2392

[4] Konrad, T. G. and Howard, J. C. Multiple Contrail Streamers Observed by Radar. Journal of Applied Meteorology, 13: 563-572, 1974.

[5] Minnis, P. et al. Contrails, Cirrus Trends, and Climate. Journal of Climate, 17: 1671-1685, 2004.

[6] Burkhardt R. and Kärcher B. Global radiative forcing from contrail cirrus. Nature Climate Change 1: 54–58, 2011. doi:10.1038/nclimate1068

32 Comments

  1. Muito bom artigo, parabéns! Não conhecia o site, acabei de “aterrar” aqui, iniciativas como esta são sempre de louvar. Como ainda hoje disse a alguém, o pensamento crítico é como o Big Foot: toda a gente acha que sabe o que é mas só muito poucos o viram em acção.

    Só duas notas:

    Primeira: o tom do post é por vezes um pouco agressivo demais. O objectivo do blog não é o de confirmar o que as pessoas informadas e com espírito crítico já sabem, mas alertar as pessoas que genuinamente não sabem se devem ou não acreditar nas várias histórias para as incoerências das mesmas e dar informação não enviesada sobre os assuntos. Se o tom for agressivo a consequência pode ser o leitor, já inclinado a acreditar na história da conspiração, ficar ainda mais fechado nessa crença. O post torna-se parte da conspiração e as crenças ficam mais vincadas. (nota: o tom é, em geral, informativo; há só uma ou outra frase aqui e acolá que incluem um juizo de valores que podia ser evitado a bem do papel pedagógico). A espaços o texto fez-me lembrar os documentários do Michael Moore: não que o que ele diz seja falso ou injustificado, mas a forma como o diz faz com que quem já não concordava com ele antes passe a classificá-lo como mais um “liberal comunista anti-americano” e deixa de prestar atenção aos factos descritos.

    Segunda nota: nada contra traduzir o xkcd, e aposto que o autor não se importa; Mas sugiro que incluam, não apenas a referência ao blog, mas um link para o cartoon original. Não que seja necessário confirmar a tradução (as duas que vi estão perfeitas), mas o xkcd é demasiado bom para privarem os vossos leitores que ainda não o conhecem de uma das melhores fontes de humor informado da internet.

    1. Obrigado pelo feedback Nelson, de facto este post tinha como propósito não ser apenas mais um post informativo (temos bastantes desses) mas dar também uma opinião mais pessoal sobre o tema. Eu não nutro grandes esperanças de fazer um teórico da conspiração mudar de ideias, o tipo de pensamento envolvido torna isso muito difícil, tudo aquilo que aqui disse vai ser facilmente descartado independentemente do tom que utilizar. Mas acredito que é possível convencer quem ainda está em cima da cerca, caso contrário não me daria ao trabalho de fazer o que faço. Acho que a redução ao absurdo em algumas circunstâncias pode ter um valor pedagógico, não para o alvo mas para quem vê o exemplo, mas isso é claro, apenas uma opinião.

      Quanto ao link do cartoon do xkcd foi mesmo lapso, no anterior tinha incluído o link, vou tratar disso.

  2. Actualização: O Tugaleaks removeu a “informação incorreta sobre Edward Snowden”. Ainda bem, mas podiam ter aproveitado para remover mais coisas…

  3. Bom artigo. Só um reparo: não misturem o 11 de setembro com os chemtrails. Também achei curioso que o caso Snowden seja ratado com esta ligeireza: “(…) algo que já deveria fazer parte do senso comum e de qualquer disciplina de iniciação à informática”. Eu ando num curso de relacionado e nunca ouvi os meus professores falarem disto: http://news.yahoo.com/snowden-documents-nsa-break-common-internet-encryption-214022933–sector.html , a título de exemplo. De qualquer modo acho que é um artigo bem escrito e de fácil leitura.
    Hão-de fazer um artigo sobre a Operação Gladio, Gladio B ou sobre a Aginter Press.

    1. Olá Pedro. Obrigado pelo reparo, mas eu não vejo qualquer diferença entre a teoria alternativa sobre o 11 de Setembro e a teoria dos chemtrails, ambas possuem os mesmos problemas. E parece que não sou só eu, o Julian Assage poderia defender a tese de que o 11 de Setembro foi um ataque interno que isso facilmente lhe traria mais apoio e mediatismo. Não o faz porque sabe que não tem realmente provas credíveis, não como nos casos que denunciou.
      Em relação ao caso Snowden, não quis dizer que não seja algo de preocupante, é sem dúvida, e devemos questionar-nos se estas práticas são admissíveis em estados supostamente de direito. Quis dizer que não é uma revelação de todo surpreendente se pensarmos bem no assunto. Ao contrário dos supostos efeitos no clima do HAARP, que desafiam os conhecimentos científicos e tecnologia actual, andar a espiar e-mails, redes sociais e até contas bancárias é algo que é perfeitamente plausível e até expectável, é algo que as principais agências de espionagem do mundo com certeza farão já que afinal esse é o trabalho delas – espiar. Muitos dados encriptados podem ser quebrados se se tiver tempo e poder computacional, mas nem é preciso perder tempo nisso quando se pode passar uma lei a obrigar as empresas a fornecer os dados. Acho que ainda há muita gente convencida de que aquilo que faz na internet é anónimo, algo bem patente quando se visita caixas de comentários nos sites de jornais e se vêm lá coisas escritas que nunca seriam ditas cara-a-cara. Mas isso é uma ilusão e é algo que devia ser explicado até nas aulas de informática na óptica do utilizador. De qualquer das formas, o caso Snowden só demonstra o quão difícil é manter segredos que envolvam um grande número de pessoas.

      1. ” eu não vejo qualquer diferença entre a teoria alternativa sobre o 11 de Setembro e a teoria dos chemtrails”. Sim, mas eu vejo muitas muitas diferenças :). ” Olhe, ainda recentemente o jornalista Seymour Hersh pôs em causa a operação que terá posto fim a Bin Laden (http://www.theguardian.com/media/media-blog/2013/sep/27/seymour-hersh-obama-nsa-american-media).
        “… farão já que afinal esse é o trabalho delas – espiar” Sem dúvida, mas esta espionagem a larga escala virtualmente todas as comunicações não tem precedente e pode minar (e mina com certeza) o funcionamento de qualquer democracia. Talvez não seja um assunto para levar como inevitável e de pouca importância mas, pelo contrário, é de grande urgência. O medo de ser espionado hoje só tem precendente no tempo da guerra fria.

  4. Várias das fotografias que o piloto Mick West tem no Fórum de que ele é administrador (Metabunk), especialmente uma que diz respeito ao filme Spartacus de 1960 onde aparecem alguns rastos no “céu”, vê-se que o supracitado “céu” foi lá posto com o adobe photoshop ou com outro qq editor de fotos. 😀
    Ora isto não abona nada a favor desse tal piloto que vocês aqui indicam como uma das vossas referências. Eu gostava de por aqui a prova daquilo que digo, mas só não sei como.
    Espero que tenham a amabilidade de ensinar.

    1. Caro Whasse, estando nós a falar de um filme, não será de todo surpreendente que a imagem do céu seja manipulada, a manipulação de imagens nos filmes é frequente pelas mais variadas razões. Mas vamos ver as possibilidades que temos ao nosso dispor.

      1ª possibilidade: a imagem não foi manipulada (às vezes esses “vê-se” são enganadores);

      2ª possibilidade: a imagem foi manipulada pelos próprios criadores do filme, podem ter sido obrigados a filmar num estúdio e a adicionar a imagem do céu falsa (que será sempre do céu de 1960 para trás);

      3ª possibilidade: a imagem foi realmente manipulada, talvez até pelo próprio Mick West (que malandreco) e nesse caso eu pergunto como é que isso prova a teoria dos chemtrails? E, adicionalmente, o que se faz a todas as outras fotos e vídeos que demonstram que os rastos de vapor deixados por aviões existem há bastante mais tempo do que os teóricos da conspiração alegam?

      É claro que se pode simplesmente alegar o mesmo para tudo, que todos os documentos de que não se gosta são fraudes, afinal, a ser verdade, esta teoria da conspiração é orquestrada pelas pessoas mais inteligentes e poderosas de sempre, eu diria até sobre-humanas. Se conseguem alcançar a impossibilidade logística de espalhar venenos pelo mundo todo com recurso a aviões, com certeza que alterar documentos será facílimo para eles. Só que esse tipo de pensamento não passa de uma desculpa altamente improvável para manter viva uma teoria que é também altamente improvável. Esta-se simplesmente a adicionar graus de complexidade para evitar que a teoria colapse, mas sem nunca comprovar o que está na sua base.

      PS: O site mantido pelo Mick West é indicado como fonte de mais informação sobre este assunto, não como referência. Estas estão bem indicadas ao longo do texto que deve (ou devia) ter lido.

      1. Citação1:
        “É claro que se pode simplesmente alegar o mesmo para tudo, que todos os documentos de que não se gosta são fraudes”…
        É curioso que isso seja exactamente aquilo que vocês fazem… 😀
        Meu caro Marco, o seu grande erro é partir do princípio que eu sou a favor, como poderia ser contra a teoria da existência dos “chemtrails”. Ora, para sua informação, estou-me completamente nas tintas, o que não me impediu de ler, como o Sr. amavelmente indica, todo o texto do artigo e ter chegado ao fim do mesmo e ter lido o seguinte:

        “Mais informação:

        The Contrail Education Project – Um site educacional da NASA que responde a várias perguntas sobre contrails.

        Contrail Science – Um site mantido pelo piloto Mick West onde são refutados vários dos argumentos da teoria dos chemtrails e com uma extensa colecção de documentos históricos e artigos científicos.

        Comcept – Artigos anteriores sobre a mesma temática.”

        É claro que fui ver quem era o tal piloto dado pelo nome de Mick West e, qual não é o meu espanto quando vejo a tal fotografia de que falo, que por sinal está tão mal enjorcada que chama logo a atenção de qq pessoa habituada a trabalhar com editores de fotografia.

        Citação2:
        “2ª possibilidade: a imagem foi manipulada pelos próprios criadores do filme, podem ter sido obrigados a filmar num estúdio e a adicionar a imagem do céu falsa (que será sempre do céu de 1960 para trás);”…
        Será sempre de 1960 para trás se forem bem intencionados… Mas como é que o Sr. sabe que o céu posto na mesma terá de ser sempre de 1960 pra trás???
        Porque é um documento que o Sr. gosta e porque lhe convém muitíssimo para a confirmação da sua teoria, está-se mesmo a ver… 😀

        1. Caro Wahsse, espero que não leve mal, mas continuo a achar que o seu grande erro é não ler as coisas ou não as ler com atenção. Em nenhum momento do meu comentário dou a entender que o Wahsse subscreve algo mais para além daquilo que escreveu. Estou meramente a desenvolver a questão que foi colocada. Contudo, já que toca no assunto, para alguém que está completamente nas tintas, só posso estranhar tamanha insistência e certeza na hipótese de uma agenticidade malévola em torno de uma imagem de um filme.

          «Será sempre de 1960 para trás se forem bem intencionados… Mas como é que o Sr. sabe que o céu posto na mesma terá de ser sempre de 1960 pra trás??? »

          Estando nós a falar da 2ª possibilidade que, volto a relembrar, é a imagem do céu ter sido manipulada/adicionada pelos próprios criadores do filme, algo que acontece frequentemente no cinema pelas mais variadas razões, logicamente daí resulta que a imagem tem de ser de 1960 para trás. Caso contrário, ter-se-ia de argumentar que os criadores do filme usaram uma máquina do tempo para vir ao futuro, tirar uma foto do céu com contrails e voltar atrás para a incluir no filme. Espero que o assunto esteja esclarecido.

          «Porque é um documento que o Sr. gosta e porque lhe convém muitíssimo para a confirmação da sua teoria, está-se mesmo a ver… »

          Mesmo assumindo a remota possibilidade de que a imagem do céu no filme Spartacus foi manipulada com o objectivo expresso de desacreditar a crença nos chemtrails, algo que o Wahsse ainda não demonstrou, não vejo de que forma isso terá influência no conjunto de argumentos que apresentei neste texto. Afinal, essa imagem nem sequer é apresentada no mesmo. Volto a salientar que esses “vê-se” e “está-se mesmo a ver” que o Wahsse experiencia parecem não ser muito fiáveis…

          Na minha incapacidade de entender o que o leva a ter a certeza de que a imagem foi manipulada com objectivos maliciosos, fui a à procura da mesma e suponho que seja esta. Deixe-me fazer-lhe uma pergunta, será que os criadores do filme Dr. Strangelove também eram mal intencionados? Nesta cena é possível observar várias manipulações, como a adição de um avião de brincar à frente de uma filmagem feita a bordo de um avião real ou um homem a montar uma bomba como um cowboy. (Se reparar o realizador de ambos os filmes é o mesmo, Stanley Kubrick).

          Continuo sem ver por que motivo a 3ª possibilidade há-de ser mais provável do que a 2ª. E, mesmo que a 3ª possibilidade seja verdade, falho em ver qual a relevância do assunto para este texto (as caixas de comentários servem essencialmente para discutir o assunto do texto).

          PS: Os comentários são moderados neste blog e nem sempre podem ser publicados no momento. Asseguro-lhe que aqui ninguém quer impedir que as suas importantes opiniões sejam lidas pelo mundo, desde que sigam as regras da política de comentários. Estando o assunto esclarecido por este meio, tomei a liberdade de não publicar os seus comentários que se queixavam de censura, só iriam ocupar espaço e creio que não levará a mal.

          1. Saberá, por acaso quem levou o Stanley Kubrick a “inventar” o personagem Dr. Strangelove?
            Ainda bem que falou nele, porque assim vou tomar partido nesta troca de impressões e a favor dos chemtrails.
            No próximo post já lhe vou explicar porquê… 🙂

          2. Ora então meu caro Sr. Marco, aqui vai a explicação do porquê da minha tomada de posição.
            Aqui há aproximadamente um quarto de século atrás, resolvi fazer alguma coisa pela minha vidinha e, dada a profissão que tenho, fui procurar um lugar ao sol no país das oportunidades – os States – e facilmente o consegui.
            Uns anitos depois de lá estar a trabalhar e a ganhar algum dinheirito para a velhice, recebi uma proposta em que me ofereciam aproximadamente o dobro do vencimento que tinha e que já não era nada mau, o que eu aceitei de imediato.
            Fiquei a saber que tinha de ter um estágio de adaptação à minha nova tarefa a qual era pilotar aeronaves de carga de várias construtoras cujo tecto de operações se situasse entre os 40000 e os 50000 pés. Uma das características dessas aeronaves era que todas elas estavam pintadas de branco e não tinham número de cauda.
            É evidente que eu não vou dizer o que é que essas aeronaves transportavam mas os Srs. Já devem ter adivinhado o que era. Posso mais tarde entrar em maiores detalhes quanto à carga, mas com o documento que me distribuíram na altura do estágio para nos convencer que aquilo que nós iríamos fazer era “bom” e que eu vos vou facultar, facilmente perceberão o que era. Um dos autores deste documento é o cientista que dava pelo nome de Edward Teller o famoso inventor da bomba H e que ficou, nos tempos da guerra-fria, conhecido como o “Anjo da morte”.
            Foi este cientista que levou o Stanley Kubrick a idealizar o personagem Dr. Strangelove, daí a minha pergunta no post anterior.
            Como hão-de verificar ao ler o documento que em algumas partes está sublinhado a amarelo, o intuito deste tipo de scattering não é atacar a população mas tem como dano colateral a baixa da qualidade de vida das populações onde são feitas estas pulverizações.
            Como também irão verificar no documento, a principal composição dos aerossóis são materiais metálicos, alguns de grande densidade.
            Com os melhores cumprimentos,
            Wahsse
            http://freepdfhosting.com/606fa1196f.pdf

          3. Portanto, só para ver se entendi correctamente, começa por dizer que está “completamente nas tintas” para a teoria dos chemtrails. E, num comentário seguinte, diz que vai “tomar partido nesta troca de impressões e a favor dos chemtrails” e revela que fez inconscientemente parte dessa conspiração, o que demonstra a gritante desonestidade do seu comentário inicial. Wahsse, eu tenho paciência para muitas coisas, menos para infantilidades. Devido a esse facto, e à sua insistência em não abordar os argumentos tratados no texto e comentários, optando em vez disso pela táctica dos red herrings, este vai ser o último comentário a que vou responder e aprovar.

            1º Você apresenta-me um documento que propõe diferentes abordagens para tentar alterar o clima com recurso a aviões, ambição que está longe de ser um segredo, que é um campo actual de estudo científico, mas que permanece por demonstrar se funciona ou se será até praticável. Como é que esse documento prova que os rastos de condensação que vemos diariamente nos céus fazem parte de um projecto secreto de geoengenharia? Como se dá esse salto sem provar sequer que existe uma diferença entre os contrails e os hipotéticos chemtrails? Isto só demonstra a incapacidade dos teóricos da conspiração em distinguir factos de especulação.

            2º Se o propósito é alegar que as abordagens propostas nesse documento não só estão a ser implementas secretamente, como funcionam realmente, uma vez que foram feitas por um homem brilhante como Edward Teller (uma espécie de argumento da autoridade), sou forçado a lembrar-lhe, por exemplo, o extraordinário falhanço do projecto Excalibur do mesmo autor. Ninguém é perfeito.

            3º Com tão privilegiado acesso aos meandros da conspiração, com certeza que o Wahsse terá recolhido algumas provas concretas dessas actividades questionáveis. Aconselho-o a partilhá-las com o mundo tal como fizeram o Bradley Manning e Edward Snowden. Pode entrar em contacto com WikiLeaks por exemplo.

            Cumprimentos.

    1. Olá, eu falo sobre essa notícia no meu texto, foi inventada por um site humorístico russo, do género do norte-americano Onion News ou o português Inimigo Público. É algo bastante óbvio quando se visita a secção “About” do site.

    1. Todos os artigos que temos sobre chemtrails, para além deste, podem ser acedidos neste link: https://comcept.org/tag/chemtrails/
      Sobre a doenca de morgellons ainda não escrevemos nada, mas a explicação médica actual é que se trata de uma doença do foro psiquiátrico que se inclui num conjunto de doenças que partilham em comum o delírio de uma infestação parasitária. Talvez este artigo científico de revisão lhe interesse, é de acesso livre: http://cmr.asm.org/content/22/4/690.long

  5. Muito obrigado pelos links. Voltando ao assunto dos chemtrails, gostaria de saber qual a vossa opiniao sobre a operacao Popeye (https://en.wikipedia.org/wiki/Operation_Popeye) e o caso do lancamento de aerossois para a atmosfera, no Reino Unido entre 1940 e 1979, relatado nesta noticia do The Guardian/The Observer (http://www.theguardian.com/politics/2002/apr/21/uk.medicalscience).
    Quanto a mim, o facto da ciencia poder explicar todo e qualquer rasto que apareça na atmosfera como sendo um contrail, nao quer dizer que, no meio deles nao possam aparecer alguns ditos chemtrails pertencentes a projectos que so mais tarde se vira a saber da sua existencia, como foram os casos relatados no paragrafo anterior.

    1. Olá outra vez,

      Bem, a modificação de alguns aspectos do clima local, como a precipitação, é algo que já é posto em prática e a sementeira de nuvens é feita até por empresas privadas, apesar de os resultados nem sempre serem consistentes. Parece-me ser este o tipo de experiências que faziam parte da operação Popeye. Normalmente o que as várias teorias dos chemtrails alegam é a existência de projectos secretos de geo-engenharia, ou seja, a modificação do clima a nível global, o que exigiria a concertação de milhares de indivíduos de diferentes nações, o que torna a hipotética conspiração demasiado complexa para ser credível.

      Em relação à notícia do Guardian, seria interessante saber mais sobre as conclusões da experiência, isto é, se a dispersão aérea, dependendo da altitude a que é feita, é realmente um meio eficaz de envenenar a população, talvez ajudasse a esclarecer algumas das variantes da teoria dos chemtrails. De resto, estamos a falar de testes realizados com o objectivo contrário ao dos chemtrails tóxicos, ou seja, com o objectivo de proteger a população de um possível ataque químico ou biológico. O químico utilizado tinha propriedades fluorescentes que permitam medir a sua dispersão e, pelo menos na altura, foi considerado relativamente seguro. Dependendo da concentração e da repetição das exposições pode até não ter havido qualquer efeito negativo na saúde. Ainda assim, tanto esta como as outras experiências descritas no artigo, não deixam de ser muito questionáveis ao nível ético. Os responsáveis da altura provavelmente acharam que o risco de acontecer um ataque para o qual não estavam preparados era superior a qualquer risco da própria experiência e isso serviu-lhes de justificação. Mas como diz o ditado, de boas intenções…

      “Quanto a mim, o facto da ciencia poder explicar todo e qualquer rasto que apareça na atmosfera como sendo um contrail, nao quer dizer que, no meio deles nao possam aparecer alguns ditos chemtrails pertencentes a projectos que so mais tarde se vira a saber da sua existencia, como foram os casos relatados no paragrafo anterior.”

      Sim, tem razão, é uma possibilidade. Mas nós cépticos gostamos de usar um princípio chamado de navalha de Occam, que diz que existindo várias explicações possíveis, a mais simples é geralmente a verdadeira. E a mais simples, dada a incapacidade de distinguir contrails normais de hipotéticos chemtrails, é que na verdade tudo o que vemos são provavelmente contrails, pelo menos até que se prove o contrário.

      Existem verdadeiras conspirações e segredos. Os governos escondem coisas de nós com a justificação de que é para a nossa segurança quando nem sempre é realmente assim, e todos nós enquanto cidadãos devemos fazer pressão para que isso mude. Mas também é necessário traçar uma linha entre factos concretos e especulação, e entre um cepticismo saudável e a paranóia total. O facto de existirem segredos e conspirações reais não tornam as teorias da conspiração mais prováveis ou verdade por defeito, seria o mesmo que todos os acusados de homicídio serem presos sem provas concretas, só porque já ocorreram homicídios antes. Na verdade, todos os segredos que já vieram à luz do dia foram revelados por denúncias de intervenientes (p.ex o Snowden), erros dos conspiradores ou os próprios governos. Uma constatação que vai contra uma das principais premissas que as teorias da conspiração necessitam para se manterem de pé – a ideia de que é possível manter um segredo que envolve um número incrivelmente grande de pessoas. Qualquer pessoa pode inventar uma teoria da conspiração, até existem sites que as fazem de forma automatizada, devemos ser críticos das actividades dos governos, mas também, das alegações extraordinárias que encontramos na internet 😉

    2. Eu acrescento, o que acha mais provável, que o uso de aviões comerciais que sempre fizeram contrail e tornar a viagem mais dispendiosa só para andar a espalhar químicos de forma aleatória e pelos visto visível ou fazê-lo de forma invisível? Se eu fosse conspirador, faria-o de um forma muito mais inteligente e controlada. Ou seja a haver conspirações (que as há) de certeza que não é nenhuma que se pense existir.

  6. Estou muito contente porque já consegui arranjar um teclado que me permite escrever em português. Desculpem o tamanho deste post, mas a resposta assim o exige.
    Sr. Marco Filipe:
    O que está em análise nesta nossa troca de impressões é a possibilidade da existência actual ou não, na atmosfera, de chemtrails e não se são verdadeiras ou não as teorias da conspiração que tentam explicar as razões dos mesmos.
    O sr., parte logo do princípio que não até ser provado o contrário, baseado no argumento, com o qual eu também concordo, de que as teorias da conspiração que os tentam explicar têm muito pouca credibilidade.
    Ora, se formos analisar bem a questão, uma coisa nada tem a ver com a outra e se estivermos à espera que o contrário seja provado, poderá acontecer aquilo que aconteceu com a Operação Popeye, dado que a sua existência também foi negada até às últimas consequências.

    The chemical weather modification program was conducted from Thailand over Cambodia, Laos, and Vietnam and allegedly sponsored by Secretary of State Henry Kissinger and CIA without the authorization of then Secretary of Defense Melvin Laird who had categorically denied to Congress that a program for modification of the weather for use as a tactical weapon even existed. (https://en.wikipedia.org/wiki/Operation_Popeye)

    Ora aqui está um caso em que existiram rastos químicos na atmosfera e que na altura também se poderia dizer que eram só contrails. Sim, porque para se fazer a sementeira das nuvens com iodeto de prata e iodeto de chumbo era necessário espalhá-los na atmosfera através de aviões preparados para a realização da missão.

    …The operation seeded clouds with both silver iodide and lead iodide, resulting in the targeted areas seeing an extension of the monsoon period an average of 30 to 45 days…
    …Three C-130 Hercules aircraft and two F-4C Phantom aircraft based at Udorn Royal Thai Air Force Base Thailand flew two sorties per day. The aircraft were officially on weather reconnaissance missions and the aircraft crews as part of their normal duty generated weather report information. The crews, all from the 54th Weather Reconnaissance Squadron, were rotated into the operation on a regular basis from Guam. Inside the squadron, the rainmaking operations were code-named “Motorpool”… (https://en.wikipedia.org/wiki/Operation_Popeye)

    Tudo aquilo que o sr. escreve no segundo parágrafo do seu post leva-me a crer que não leu com a devida atenção o artigo em causa, ora vejamos:

    …One chapter of the report, ‘The Fluorescent Particle Trials’, reveals how between 1955 and 1963 planes flew from north-east England to the tip of Cornwall along the south and west coasts, dropping huge amounts of zinc cadmium sulphide on the population. The chemical drifted miles inland, its fluorescence allowing the spread to be monitored. In another trial using zinc cadmium sulphide, a generator was towed along a road near Frome in Somerset where it spewed the chemical for an hour…
    …While the Government has insisted the chemical is safe, cadmium is recognised as a cause of lung cancer and during the Second World War was considered by the Allies as a chemical weapon…
    … The report also reveals details of the DICE trials in south Dorset between 1971 and 1975. These involved US and UK military scientists spraying into the air massive quantities of serratia marcescens bacteria, with an anthrax simulant and phenol …
    (http://www.theguardian.com/politics/2002/apr/21/uk.medicalscience)

    Acha que o lançamento na atmosfera de grandes quantidades de sufureto de zinco e cádmio, bem assim como o lançamento no ar de quantidades maciças de bactérias é relativamente seguro e pode não ter tido qualquer efeito negativo na saúde das mesmas???
    Como é possível que uma pessoa que diz utilizar a Ciência para escrutinar a opinião dos outros pode dizer, sem provas, uma coisa destas???
    Este é mais um caso em que houve o aparecimento de rastos químicos na atmosfera e que, segundo o ponto de vista aqui defendido seriam, única e simplesmente, contrails.
    Quanto ao princípio lógico da navalha de Occam ele, cientificamente, só é aplicado para simplificações quando as variáveis aleatórias a analisar são em número muitíssimo elevado (praticamente em número infinito), pelo que é utilizado (nem sempre) nos métodos e técnicas analíticas (estatística indutiva) não se recomendando a sua aplicação para além do estritamente necessário.
    Imaginemos que nos dois casos anteriores se tinha utilizado este princípio, evidentemente que a conclusão a que se tinha chegado estaria completamente errada.
    Se é evidente que o facto de existirem segredos e conspirações reais não tornam as teorias da conspiração mais prováveis ou verdadeiras, também é evidente que o facto da pouca credibilidade que têm as teorias da conspiração que tentam explicar o fenómeno dos chemtrails não torna, só por si, a existência actual dos mesmos, menos provável ou completamente impossível.
    Quanto a mim, a maneira mais inteligente e secreta de sempre para esconder a existência dos chemtrails é, nem mais nem menos, pô-los à vista de toda a gente dizendo que aquilo que se está a ver são simplesmente inócuos contrails.
    Sr. nzalmeida:
    Eu nunca disse que eram aviões comerciais que hipoteticamente lançavam os chemtrails, antes pelo contrário, logo, não entendo a sua argumentação acerca deste tipo de aviões. Será que é possível lançar os químicos de forma invisível? Só se for de noite, caso contrário se houvesse essa possibilidade, de certeza que não estávamos aqui a falar sobre este assunto e, mais uma vez lembro, que estamos a trocar impressões sobre a existência actual ou não de chemtrails na atmosfera e não da maior parte das teorias da conspiração que os tentam explicar.
    Se há conspirações ou não isso é um problema para ser discutido noutra oportunidade mas, como o sr. tem a certeza que não é nenhuma que se pense existir, então diga lá uma que seja aceitável. Se quer saber de mais alguma ocasião em que de certeza apareceram chemtrails na atmosfera, posso apontar-lhe a época em que se desenvolveu o Projecto Stormfury entre 1962 e 1983.

    1. Olá, recebi a notificação no início da semana mas depois esqueci-me de publicar e responder, as minhas desculpas.

      O sr., parte logo do princípio que não até ser provado o contrário, baseado no argumento, com o qual eu também concordo, de que as teorias da conspiração que os tentam explicar têm muito pouca credibilidade.

      O princípio do qual eu parto é que os teóricos da conspiração fazem uma montanha de alegações sobre este tema, e essas alegações têm de ser provadas. Por vezes é possível demonstrar que uma alegação é falsa ou pelo menos altamente improvável, tal como fiz no texto deste artigo, outras vezes só se pode dizer que não existem provas convincentes para se acreditar nela. Tanto quanto sei, até é possível que estejam neste momento a espalhar químicos que tornem a população susceptível a acreditar em teorias da conspiração. Quem alega é que tem de provar se quiser ser levado a sério como o Snowden ou o soldado Manning. Será isto um conceito tão alienígena?

      Nós utilizamos este raciocínio todos os dias, pelo menos para as coisas a que não estamos emocionalmente apegados: não se prendem pessoas sem provas só porque já ocorreram crimes antes, nem se processam todos os médicos por negligência aquando da morte de um paciente só porque já existiram casos anteriores e tentativas de os abafar. Cada segredo ou conspiração necessita de ser comprovada individualmente, independentemente da existência de segredos e conspirações anteriores. O Leonardo pode até argumentar, e muito bem, que a existência de segredos e conspirações anteriores torna credível a existência actual de outras conspirações e segredos que ainda não sabemos (o que para mim é diferente de dizer que tornam credíveis as teorias da conspiração). Mas também se pode argumentar que não existe, tanto quanto sei, nenhum teórico da conspiração que tenha conseguido prever uma conspiração real de forma correcta e precisa, o que não é de admirar tendo em conta a natureza altamente especulativa da actividade.

      Ora aqui está um caso em que existiram rastos químicos na atmosfera e que na altura também se poderia dizer que eram só contrails.

      Tenho de discordar, até porque a sementeira de nuvens parece ter poucas semelhanças com rastos de condensação (contrails) a não ser o facto de ambos serem gerados com aviões, como se pode ver aqui.

      Tudo aquilo que o sr. escreve no segundo parágrafo do seu post leva-me a crer que não leu com a devida atenção o artigo em causa […] Acha que o lançamento na atmosfera de grandes quantidades de sufureto de zinco e cádmio, bem assim como o lançamento no ar de quantidades maciças de bactérias é relativamente seguro e pode não ter tido qualquer efeito negativo na saúde das mesmas??? Como é possível que uma pessoa que diz utilizar a Ciência para escrutinar a opinião dos outros pode dizer, sem provas, uma coisa destas???

      Eu li o artigo Leonardo. As “provas” estão no próprio artigo e à distância de uma pesquisa no Google se faltarem conhecimentos na área. O que eles fizeram foi correcto? Estamos de acordo que não. O que eles fizeram foi com intenções malignas (tal como algumas variantes da teoria dos chemtrails alegam)? Eu não as consigo ver, afinal, quem tem intenções malignas utiliza armas químicas e biológicas reais nas populações, não utiliza substitutos com o objectivo de simular a dispersão de armamento real pelo país e de se preparar para um ataque vindo de nações inimigas. E volto a relembrar de que não há nenhuma garantia de que a dispersão destes agentes se pareça minimamente com contrails / hipotéticos chemtrails. Aparentemente os EUA fizeram o mesmo tipo de testes com o mesmo químico, uma molécula diferente do cádmio que, ao contrário do que o jornalista do Guardian dá a entender, pode ou não ter efeitos semelhantes, mas que na altura era considerado relativamente segura. Se estiver interessado aqui fica a avaliação da segurança dessa operação dos EUA feita pelo National Research Council que dá muitos mais pormenores do que a notícia do Guardian.

      Estas operações não deviam ter sido feitas sem consentimento das populações, por mais remota que fosse a possibilidade de aí advir algum mal. Estamos totalmente de acordo nisso! Por exemplo, os microorganismos que utilizaram podem ser encontrados de forma abundante no meio ambiente e normalmente não fazem mal, mas têm realmente potencialidade para serem patogénicos em alguns casos, e ninguém deve ter o direito de andar a jogar com a vida alheia dessa forma, por menor que seja a probabilidade de correr mal. No entanto, se é para escolher uma operação maliciosa acho que esta é um mau exemplo, no máximo será negligente. Para maliciosa escolhia antes a experiência com sífilis levada a cabo pelos EUA na Guatemala, o resultado era mais do que expectável e mesmo assim seguiu em frente.

      Quanto ao princípio lógico da navalha de Occam ele, cientificamente, só é aplicado para simplificações quando as variáveis aleatórias a analisar são em número muitíssimo elevado (praticamente em número infinito), pelo que é utilizado (nem sempre) nos métodos e técnicas analíticas (estatística indutiva) não se recomendando a sua aplicação para além do estritamente necessário.

      A navalha de Occam é obviamente um princípio geral, não atesta a veracidade de nada, já que não remove a necessidade de verificação empírica, mas aplica-se perfeitamente neste assunto e a muitos outros. Devo dizer que é a primeira vez que vejo tal definição deste princípio…

      Se é evidente que o facto de existirem segredos e conspirações reais não tornam as teorias da conspiração mais prováveis ou verdadeiras, também é evidente que o facto da pouca credibilidade que têm as teorias da conspiração que tentam explicar o fenómeno dos chemtrails não torna, só por si, a existência actual dos mesmos, menos provável ou completamente impossível.

      Até que seja provado, o fenómeno dos chemtrails existe apenas enquanto produto de teorias da conspiração, se estas têm pouca credibilidade, daí advém que estes também o têm. Mas ainda bem que estamos de acordo no resto, significa que a operação Popeye e as experiências descritas no Guardian não servem de prova dos chemtrails, até porque não existe qualquer garantia de que estas actividades tenham produzido algo remotamente semelhante aos hipotéticos chemtrails (que é isso que estamos a discutir, certo?!). Quanto muito servem de prova que já existiram segredos e conspirações, algo com que sempre estive concordo.

      […] Ora, se formos analisar bem a questão, uma coisa nada tem a ver com a outra e se estivermos à espera que o contrário seja provado, poderá acontecer aquilo que aconteceu com a Operação Popeye […]
      […] Imaginemos que nos dois casos anteriores se tinha utilizado este princípio [navalha de Occam], evidentemente que a conclusão a que se tinha chegado estaria completamente errada. […]
      […] Quanto a mim, a maneira mais inteligente e secreta de sempre para esconder a existência dos chemtrails é, nem mais nem menos, pô-los à vista de toda a gente dizendo que aquilo que se está a ver são simplesmente inócuos contrails.

      Muita coisa é possível sem que seja necessariamente verdade. Eu até posso estar dentro de uma simulação de computador a imaginar que estou a conversar com outro ser humano real. Creio que a nossa fonte de discórdia é que para mim sem provas concretas não se sai do campo da especulação e não se consegue separar fantasia da verdade, coisa que considero muito mais importante. Andar a tentar “ligar pontinhos” para adivinhar conspirações é um exercício completamente fútil com um historial de maus resultados de 100%. Quando e se uma conspiração for comprovada nós os cépticos aceitamo-la.

      Um céptico corre um maior risco de rejeitar inicialmente alegações que até podem ser verdade mas para as quais não existem de momento provas convincentes, já o não-céptico corre o risco de acreditar e manter indefinidamente a crença em alegações que são falsas. Qual será a melhor posição? Dependerá de cada situação, mas eu obviamente acho que geralmente é a primeira. Se não concorda com esta forma de pensar está no seu direito, mas aqui está a opinião que pediu…

    2. Leonardo, peço desculpa mas eu dou por encerrada a discussão, tudo aquilo que já lhe disse no último comentário serve igualmente para o que escreveu hoje. Se é para continuar repetir o mesmo, passar à próxima inundação de alegações e especulações e queixar-se do quanto os cépticos estão errados por exigirem provas concretas antes de acreditarem em algo, sugiro-lhe a criação de um blog onde pode escrever dissertações inteiras sobre o assunto. Tenho a certeza de que haverá alguém para o ler com mais vontade e paciência do que eu. E se entretanto aparecer o Snowden dos chemtrails (do seu tipo super específico de chemtrails que não têm nada a ver com as teorias da conspiração apesar de eu não conseguir ver a diferença) pode ser que também me torne um frequentador assíduo do mesmo. Cumprimentos.

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