Votação para o Prémio Unicórnio Voador 2020 – Edição Especial Battle Royale

Edição especial 2020. Pode votar nos seus nomeados favoritos até 30 de Março.

Em memória do extraordinário James Randi (1928-2020) cuja luta por um mundo um pouco mais racional e iluminado foi uma inspiração para o activismo céptico de todo o mundo. Cabe-nos a todos continuar o seu trabalho.

Ninguém poderia prever e se preparar para os acontecimentos de 2020. Se ao menos Nostradamus tivesse escrito uma profecia sobre os perigos da destruição de habitats naturais e da convivência cada vez mais próxima entre humanos e animais selvagens. Se ao menos os sábios da astrologia e cartomancia tivessem uma maior visibilidade nos meios de comunicação social para nos avisarem sobre a chegada da crise económica e do impacto que a pandemia teria na nossa saúde mental e vida social. Se ao menos alguém tivesse produzido um filme sobre uma pandemia presciente ao ponto de incluir a personagem de um charlatão que fazia dinheiro a promover teorias da conspiração e um medicamento inútil. Se ao menos os maias tivessem colado um post-it no seu calendário para nos precaver sobre o apocalipse do papel higiénico. Enfim… pelo menos podemos retirar algum consolo com o facto de que quando o vírus atacou, os nossos líderes mundiais implementaram uma resposta rápida, concertada e baseada na melhor ciência, quando, no pior dos cenários, poderiam facilmente ter adiado medidas com argumentos de que se tratava de um problema distante ou que a economia deveria ter precedência sobre a protecção de vidas para, no final, não se salvar plenamente coisa alguma. Agora, mais do que nunca, podemos ter a certeza de que as alterações climáticas – a outra grande ameaça que ninguém previu – terá uma resposta igualmente à altura!

O Prémio Unicórnio Voador – um prémio feliz para actuações infelizes – é uma distinção satírica concedida pela COMCEPT, por sugestão dos internautas, às personalidades ou entidades que durante o ano anterior tenham contribuído para a disseminação de pseudociência, superstição e outras formas de desinformação. Porque os unicórnios até podem existir, o difícil de acreditar é que consigam voar!

Tendo em conta as nomeações geradas pela prolífica actividade de indivíduos e movimentos “pela verdade” que espalharam desinformação sobre a pandemia nas redes sociais, comunicação social e até em protestos organizados, o prémio contará este ano com uma edição especial centrada no tema e da qual sairá um único vencedor. Será uma Battle Royale de negacionistas da pandemia aqueles que usam teorias da conspiração e outras tácticas comuns do negacionismo para contestar a realidade e gravidade da pandemia, bem como as mais básicas medidas de prevenção e segurança. Os argumentos variam de acordo com as motivações ideológicas de cada um, mas uma das grandes linhas unificadoras é crença de que a pandemia é uma farsa que os governos criaram para limitar as liberdades individuais dos cidadãos apenas pelo prazer de exercer controlo – deixamos aos leitores a decisão se este será o plano mais estúpido de sempre ou simplesmente uma fantasia comum entre indivíduos com determinados traços de personalidade.

Os internautas podem votar nos seus nomeados favoritos até ao dia 30 de Março e os vencedores de cada categoria serão revelados, como sempre, no dia 1 de Abril, o Dia das Mentiras. Segue-se a apresentação dos nomeados que foram seleccionados para votação. E que ganhe o melhor dos piores!

Médicos pela Verdade

A história ensina-nos que por cada Ignaz Semmelweis injustamente ridicularizado, há centenas de outros corajosos “dissidentes” que tiveram uma carreira mais brilhante e menos nociva na comédia. O grupo “Médicos pela Verdade”, composto por médicos, enfermeiros e psicólogos, alguns dos quais, para surpresa de ninguém, também praticantes de terapias alternativas, dedicou-se a espalhar “verdades alternativas” que colocavam em causa a gravidade da doença, a utilidade das máscaras e a fiabilidade dos testes à COVID-19. Chegaram até a partilhar dicas para possíveis infectados não testarem positivo nos testes, uma sugestão estranha quando não se que acredita na validade dos mesmos. Depois de várias punições aplicadas pela Ordem dos Médicos, o grupo acabou por dizer “Chega” em Fevereiro deste ano. 

Jornalistas pela Verdade

Um grupo encabeçado pelo DJ e jornalista alternativo Sérgio Tavares que se propôs a revelar toda a verdade sobre a pandemia. Isto por oposição aos jornalistas DE verdade que, obviamente, só dizem mentiras. O que muita gente não sabe é que Sérgio é também um mutante ao estilo da Rogue dos X-Men que tem o poder de absorver competências profissionais por osmose, aliás, foi assim que se tornou jornalista após ter sido entrevistado para a Rádio Renascença. Depois de ter descoberto que o “Griponol” cura a covid-19 rumou em direcção à Suécia, o país favorito dos cães e das pessoas pela verdade, onde engendrou o plano genial de fingir uma lesão para tentar entrar nos cuidados intensivos de um hospital e provar assim que a pandemia não existe. Curiosamente, isto de chegar à verdade parece ser uma arte que envolve dizer algumas mentiras…

Advogados pela Verdade

Os actuais movimentos pela verdade têm muito em comum com as boy e girl bands da viragem do milénio: ambos gostam de microfones, atenção mediática e de cada vez que piscamos os olhos parece surgir um grupo novo. Quase toda a gente concorda com a importância da liberdade. Mas enquanto um advogado do Diabo diria que as liberdades individuais de uns terminam onde começa o direito à integridade física de outros, os advogados pela verdade, por sua vez, defendem que os confinamentos e as máscaras são uma opressão inaceitável e que o Presidente da República foi feito refém pelos Illuminati, um cherne e, quem sabe até, um cardume de carapaus. A sua especialidade são as minutas que escrevem para distribuir pelos cidadãos que pretendam defender o seu direito constitucional de propagar doenças. Em nome da liberdade sugerimos também uma minuta que defenda o direito de conduzir na estrada embriagado e em contra-mão.

César Augusto Moniz

O bailarino César Augusto Moniz é um homem de vários talentos que vão do domínio da pirouette ao extraordinário dom de sentir radiações electromagnéticas – uma capacidade incomum em seres humanos e que se torna ainda mais suspeita em alguém tão versado na taxonomia alienígena. Preocupado com a ignorância dos portugueses na área da pseudociência e das teorias da conspiração, resolveu criar o canal de YouTube “Conversas da Alma” onde, entre outras coisas, alega que a pandemia foi planeada, que as torres 5G fazem parte do processo de propagação do vírus e que as pessoas andam a ser controladas pelos electrodomésticos. Infelizmente, para todos, o Bill Gates ainda não lançou a actualização que permite aos routers Wi-Fi implantar a sugestão de que os vídeos de teorias da conspiração fritam o cérebro.

João Beles

O praticante e docente de naturopatia no IMT é um veterano na corrida ao Unicórnio Voador. João Beles teve um ano atarefado nas redes sociais mas conseguiu ainda assim arranjar tempo para participar em manifestações pela verdade e até compor a bela canção “Vassina Assassina”– uma criação artística inusitada para alguém que repetidamente diz não ser anti-vacinas. Normalmente confortável com a comunicação social, João Beles sentiu-se censurado com a atenção dedicada pelo Polígrafo ao aproveitamento que fez da morte de uma criança de 13 anos para sugerir que teria sufocado com uma máscara, juntando o trágico desfecho à longa lista de valorosos cirurgiões, pintores e outros profissionais que todos os dias sufocam com máscaras no desempenho do seu trabalho. 

André Dias

Enquanto Cassandra se viu amaldiçoada pelas previsões da destruição de Tróia, André Dias abençoou-nos com uma visão messiânica da pandemia e da sua formação – com um doutoramento em “Ciências da Computação” a dar equivalência a um de “Modelação de Doenças Pulmonares”. Em “Um século de epidemiologia diz-nos outra coisa”, André Dias disseminou a desvalorização da pandemia, defendendo que a mesma não era grave, que eram as consequências do medo e não da doença que levavam o SNS ao colapso, que eram as burocracias relacionadas com a cremação que levavam a que os corpos se acumulassem ou que “não só o confinamento não ajudou o sistema de saúde como acelerou a infeção” – tudo isto e mais foi refutado por outros profissionais aqui, aqui e aqui. A mesma tese de desvalorização da doença, foi sendo repetida em entrevista ao jornal online Observador, ao canal Qi News e nos directos que foi fazendo para o YouTube. Escreveu ainda ao Presidente da República e houve até quem achasse que ele próprio seria candidato à Presidência. Mas André Dias não só estava errado na sua análise do que ia acontecendo, como falhou em praticamente todas as previsões sobre a doença, como ilustra com vários exemplos João Cerqueira, no SciMed.

Raquel Varela

Ao contrário de outros nomeados, a formação académica de Raquel Varela na área da Tudologia não levanta qualquer questão. Depois do negacionismo das alterações climáticas, a historiadora fez também questão de partilhar as suas dúvidas sobre a situação pandémica. Foram inúmeros os textos que escreveu sobre este tema, assim como foram várias as intervenções no programa “O último apaga a luz”. Uma coisa é defender que a resposta aos problemas socioeconómicos causados pela pandemia foi manifestamente insuficiente. Outra, é mostrar mais uma vez que não se percebe o conceito de consenso científico, desvalorizar as mortes causadas pela doença ou afirmar que a democracia foi suspensa (apesar das múltiplas manifestações, eventos políticos e eleições presidenciais). Opiniões que mereceram a justa crítica da enfermeira Carmen Garcia que partilhou a sua experiência profissional. Raquel Varela, apesar de se afirmar defensora do contraditório, ripostou com arrogância e soberba, como bem notou a economista Maria João Marques.

11 Comments

  1. Tenho pena de não se poder distribuir os votos por: entidade coletiva e entidade individual. Claro que em termos de proporção, as profissões “pela verdade” é do mais oligófrénico que se pode encontrar. Impossivel um dos concorrentes individuais fazer frente a tamanho absurdo. E desta forma, acho que se vai perder o destaque destes individuos tão pouco afortunados de noção …

  2. Confesso, muito complicado a opção de escolha, mas como diria um sueco em francês, mon ami mon amour “Therion”
    Mas foi o Guru primeiro dos chalupas que mais me cativou ad eternus parabéns pela iniciativa.

  3. Está me sendo dificílimo votar. Como escolher entre médicos, advogados e jornalistas pela verdade?Acho que eles devem repartir o prêmio. Não? Tem de ser o melhor dos piores? Então delego à direção da CONCEPT votar por mim. Gostei: sob a justa alegação de defender as liberdades individuais, então vamos propor conduzir embriagados e na contra-mão. É tragicômico, mas é isto que está acontecendo. Proposta para a CONCEPT: criar um prêmio Unicórnio Voador específico para os/as dirigentes políticos/as. É uma injustiça da CONCEPT nenhuma referência ao Trump, Bolsonaro e Narendra Modi. Como vocês puderam fazer isso?!!

  4. Bons candidatos !!.. mas acho que a Dra. Maria Margarida de Oliveira merecia estar a votos para um o prémio individual.. nem que seja um prémio tipo : Unicórnio Voador honorário

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