Através do excelente blog Science Based Medicine chegou-nos uma notícia algo assustadora.
A edição brasileira da Scientific American publicou um pequeno texto na sua edição de Abril, favorecendo a Homeopatia. Um aluno do doutoramento em ciências médicas no Brasil, horrorizado por uma revista de divulgação científica promover, sem qualquer sentido crítico, uma pseudociência, enviou o texto em questão para a Science-Based Medicine, acompanhado por uma tradução.
O texto, tanto em inglês como no português original, foi publicado na íntegra na SBM, o qual transcrevemos aqui:
Eficiência Questionada da Homeopatia
Aplicação dessa técnica à agricultura acena com recuperação de plantas e ambiente
A homeopatia é conhecida como tratamento alternativo para os seres humanos, mas poucos conhecem sua utilização em animais, plantas, solos e água. Essa técnica é alvo de críticas quanto aos resultados e eficácia. Uma delas diz respeito ao “efeito placebo” de seus remédios, que não contém nenhum traço da matéria-prima utilizada em sua confecção. Para responder a essa abordagem é necessário um esclarecimento: a homeopatia não se relaciona com a química, mas com a física quântica, pois trabalha com energia, não com elementos químicos que podem ser qualificados e quantificados.
A aplicação da técnica homeopática à agricultura não é recente, como a maioria das pessoas podem considerar. Um dos primeiros estudos feitos nessa área remonta à década de 20, com pesquisas em plantas realizadas pelo casal Eugen e Lili Kolisko, baseadas nas teorias de Rudolf Steiner para agricultura biodinâmica. Desde então muitas pesquisas tem sido feitas em países como Franca, Índia, Alemanha, Suíça, Inglaterra, México, Cuba, Itália, África do Sul e Brasil. Aqui a Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, é pioneira nessa área.
Não é preciso ser especialista em saúde ou em meio ambiente para perceber que o método convencional de tratamento de pragas e enfermidades na agricultura gera um desequilíbrio no ecossistema e, consequentemente, no ser humano. Agentes patogênicos e pragas vão adquirindo, com o tempo, resistência aos agrotóxicos – que, por estratégia de mercado, passaram a ser chamados de “defensores agrícolas”. Assim, a quantidade e a agressividade desses produtos químicos tem ser aumentadas para contornar essa situação, provocando um efeito cascata desastroso: o solo se torna mais pobre e diminui sua produção; trabalhadores rurais ficam gravemente doentes pelo manuseio constante desses produtos tóxicos; as águas, incluindo as subterrâneas, são contaminadas; e os seres que dependem dos frutos da terra recebem toda essa carga de veneno, desencadeando uma série de problemas de saúde.
Com exceção das indústrias de agrotóxico e fertilizantes químicos, quem mais se beneficia com a prática desses tratamentos convencionais?
Se Hipócrates pudesse reavaliar o seu principio dos contrários, representado pela alopatia, e suas posteriores conseqüências nos seres vivos e no meio ambiente, ele o excluiria suas considerações. Já a homeopatia como técnica sustentável, economicamente viável e ecologicamente correta torna-se imprescindível ao equilíbrio do planeta e à saúde de todos os seres que nele vivem.
Autora: Nina Ximenes, bióloga, é pós-graduada em educação ambiental.
Por ser Abril, mês propício às mentiras, julgou-se que se tratava de uma brincadeira do 1 de Abril. No entanto, questionada directamente via Twitter, a Scientific American Brasil (@Sciambrasil ) confirmou a veracidade do texto, declarando: “Sobre a nota de homeopatia (abril): refere-se a um curso sério da UFV, com apoio do CNPq e envolvimento da Unesco/Fundação Banco do Brasil”.
Neste momento, a Scientific American Brasil está a aceitar opiniões e dúvidas sobre o tema através do e-mail redacaosciam@duettoeditorial.com.br
[Update 6/4/2012]
A crítica feita na blogosfera, em especial via twitter, foi tão forte que o assunto chegou aos ouvidos da editor in chief da Scientific American nos EUA. Resultado, a S.A. Brasil publicou o seguinte comunicado:
Na edição 119, próxima ao Primeiro de Abril, e às vésperas do décimo aniversário de Scientific American Brasil (em junho) cometi um erro de avaliação numa nota sobre homeopatia, publicada na seção Avanços, que quero reconhecer tanto junto aos leitores brasileiros da revista quanto em relação à tradição quase bicentenária da edição americana, a Scientific American.
O fato de se tratar de uma universidade de prestígio na área agrícola e de o curso ter patrocínio da principal agência de financiamento à pesquisa científica no Brasil, o CNPq, fizeram com que eu aceitasse e publicasse a nota produzida por uma colaboradora, bióloga, que fez o curso de 10 meses na UFV.
Esse foi o meu erro de avaliação.
Se um médico homeopata, dos aproximadamente 15 mil que existem no Brasil, montar um consultório e atender pacientes nesta área, não poderá ser acusado de desvio de conduta ou charlatanismo. Isso porque a homeopatia é legalmente reconhecida aqui como especialidade médica, farmacêutica e mesmo veterinária.
Essa situação certamente relaxou meu sistema de controle sobre a referida nota e seu conteúdo, o que significa dizer que ajuda a explicar meu erro. Mas, sem dúvida, não o justifica, daí meu pedido de desculpas aos leitores e à edição original da revista.
Quando cometi o erro de avaliação a que me referi há pouco, atropelei o conteúdo conceitual: Scientific American, refletindo talvez a maioria das opiniões no meio científico, entende que homeopatia não é ciência.
(…)
Leitores indignados com minha avaliação enviaram e-mails à redação e abordaram a questão na rede social, o que permitiu que eu me desse conta da falha que havia cometido. Numa madrugada com a Lua alta, quase cheia no céu, e o perfume da dama-da-noite inundando um pequeno jardim me dei conta de que o único reparo ao meu alcance é reconhecer o erro e me desculpar, como estou fazendo, com o apoio do diretor de redação, Janir Hollanda.
(…)