Há já algum tempo atrás, passou na televisão portuguesa uma interessante e importante reportagem que, no entanto, terá passado despercebida a muita gente.
É que, infelizmente, e ao contrário das curas milagrosas e das leituras de tarot, as reportagens bem feitas, de cariz científico e com informação verdadeiramente útil à população ficam relegadas para o cantinho da RTP 2 em horário pouco nobre.
Como queremos prestar esse serviço, aqui fica o vídeo para quem quiser ver ou rever.
Trata-se de uma reportagem do programa Biosfera que divulga o trabalho do Observatório de Interacções Planta-Medicamento da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra. Este é o primeiro observatório mundial deste género e pretende estudar e alertar o público para as interações possíveis entre plantas (ou os seus extractos) e os medicamentos.
Cerca de 70% dos medicamentos têm como base substâncias com origem natural. As plantas são, efectivamente e ao contrário do que muita gente pensa, fonte de inspiração e de substâncias químicas que são usadas na indústria farmacêutica. Quando alguém ingere um chá ou um “dietético” que contém extractos vegetais cuja acção pode potenciar ou inibir a de um medicamento que está a tomar, isso pode chegar a ter consequências drásticas.
Uma das interacções melhor conhecidas, e que inclusivamente aparece na bula do medicamento, é a que existe entre o hipericão, cujo chá é tão apreciado em Portugal, e a pílula contraceptiva. O chá de hipericão pode levar a uma eliminação mais rápida do organismo do princípio activo e, desse modo, reduzir o efeito anticonceptivo da pílula.
Como explica a Prof.ª Maria da Graça Campos, coordenadora do Observatório, o trabalho que fazem não tem como objectivo levar as pessoas a não tomarem chás ou a não usarem a fitoterapia, mas sim a que conheçam os riscos e avisem os seus médicos se estiverem a tomar algum complemento para além do prescrito. Podem até optar, com base no aconselhamento médico, a apenas seguir a “terapia natural” caso esta seja adequada.
Outro problema que fica em evidência nesta reportagem, e que iremos tratar num outro post, é a falta de regulamentação e controlo de qualidade destes produtos, uma vez que são vendidos como suplemento alimentar (ou dietético) e não como medicamentos, quando na verdade podem ter propriedades medicamentosas e interferir com outros tratamentos. Quando uma empresa opta por comercializar o seu produto com propriedades diuréticas como se fosse um dietético, foge a toda a regulamentação do Infarmed e não tem que apresentar nenhum estudo de qualidade.
Aqui fica o vídeo completo com toda a informação:
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=Hh7u1TvtdRY]
Aconselho vivamente a consulta do site do Observatório onde podem conhecem melhor o trabalho que aí se está a desenvolver, a equipa, os projectos em curso e uma base de dados de interacções que vai sendo actualizada.
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