ComceptCon – cepticismo na Nazaré

A data 3 de Novembro ficou na história da COMCEPT como o dia em que se realizou o seu primeiro grande evento a nível nacional.

Pseudociência e vigarices já têm demasiado tempo de antena. É tempo de dar voz à ciência, à razão e ao cepticismo

– David Marçal, in ComceptCon

Figura 1 – A ComceptCon no auditório da Biblioteca Municipal da Nazaré (Foto de L. Abrantes)

A data 3 de Novembro ficou na história da COMCEPT como o dia em que se realizou o seu primeiro grande evento a nível nacional. Essa iniciativa teve a designação de ComceptCon e consistiu num conjunto de conferências, que decorreram na Nazaré.

Estiveram presentes três oradores que expuseram à audiência diferentes temas da actualidade sob um olhar crítico. O arqueólogo João Tereso falou da personagem histórica Viriato, o astrónomo Carlos Oliveira abordou o tema do “Fim do Mundo” e o bioquímico David Marçal denunciou a falsa ciência que nos rodeia no dia-a-dia. No final, a bióloga Diana Barbosa fechou a conferência, fazendo uma síntese do que é o cepticismo.

Em breve teremos disponíveis as gravações em vídeo da conferência. Até lá, deixo alguns tópicos, em jeito de resumo, do que foi tratado neste evento:

Viriato, o Herói da nossa História

Figura 2 – João Tereso, arqueólogo, responde a perguntas sobre a história de Viriato (foto de L. Abrantes)

João Tereso procurou dar a conhecer os resultados das investigações mais recentes sobre Viriato, personagem da nossa história colectiva, que relembramos como o herói dos Lusitanos. Mas será verosímil a história que nos tem sido contada?

Viriato é recordado por muitos como um pastor, com origem próxima da Serra da Estrela, e que terá comandado o povo Lusitano contra os Romanos. No entanto, João Tereso informou que muita da história referente a Viriato está envolta em mitos e esclarece: para começar não existiu um povo lusitano, mas sim um conjunto de povos que habitavam grande parte da Ibéria e a quem os Romanos deram o nome de Lusitanos; além disso, não se conhece o local exacto da origem de Viriato, sendo que várias cidades portuguesas e também espanholas sustentam ter sido o seu berço de nascimento. De facto, de acordo com os registos das batalhas de Viriato, estas terão ocorrido mais junto da fronteira com Espanha, e mesmo no sul desse país, pelo que o mais provável é Viriato ter tido origem no país vizinho (note-se que Viriato é considerado herói nacional em ambos países).

Este personagem também tem sido utilizado por vários regimes como símbolo de identidade de um povo, e como modelo de vida a seguir. O regime do Estado Novo foi um dos que se aproveitou desta personagem, criando um mito à sua volta: Viriato seria o tal herói que tinha defendido o povo lusitano dos invasores romanos, vivia com poucos recursos, e era oriundo dos arredores de Viseu (outra das localidades que defende ser o berço do herói). Ora, Salazar apropriou-se deste mito tentando criar uma ligação entre ambos: o ditador português tentava unir o povo Luso, criou o ideal de viver com poucos recursos, e para mais era originário de Santa Comba Dão, no distrito de Viseu. (Simultaneamente, em Espanha, também o regime do ditador Franco se apropriou da imagem de Viriato).

No entanto, com o passar dos anos e com o decorrer da guerra colonial, a situação inverteu-se, uma vez que os portugueses passaram a ser os invasores e os habitantes das colónias tornaram-se os invadidos. Daqui resultou a supressão da história de Viriato dos manuais escolares do ensino Primário, para que os alunos não associassem o mito de Viriato à libertação do povo invadido, que neste caso seriam os africanos.

O Fim do Mundo está para breve?

Figura 3 – O astrónomo Carlos Oliveira fala das profecias do Fim do Mundo (foto de L. Abrantes)

A ideia do Fim do Mundo acompanha a humanidade há longos milhares de anos. Carlos Oliveira, identificou as diferentes causas atribuídas a possíveis fins da vida no nosso planeta, e analisou-as criticamente.

Segundo demonstrou, ao longo da nossa história houve inúmeras profecias de fim do mundo que nunca foram concretizadas. Carlos explicou que a maioria dessas profecias resultava de desconhecimento dos fenómenos naturais, de superstições ou então de pura charlatanice. O mesmo sucede com as profecias actuais, e aí Carlos é peremptório: “Já assistimos a dezenas de alinhamentos planetários e não aconteceu nada”, “Terramotos existem todos os dias. Prever sismos devido à passagem de cometas é vigarice”, “Nibiru é treta. Não existe”. Contudo, informa que a extinção de várias espécies devido a asteróides é um perigo real, embora improvável, e impossível de profetizar. Aliás, é importante recordar que o nosso planeta já sofreu várias extinções em massa no passado, uma delas devido precisamente à queda de um asteróide que terá extinguido os dinossauros há cerca de 65 milhões de anos. Curiosamente, foi essa extinção que permitiu a expansão e diversificação dos mamíferos que evoluíram, originando várias espécies, inclusive a nossa. Convém ter em conta que nós, enquanto espécie, não habitamos este planeta desde o início, nem o iremos ocupar indefinidamente.

Falsa Ciência por todo o lado

Foto 4 – O bioquímico David Marçal prepara-se para falar sobre as pseudociências (foto de L. Abrantes)

David Marçal abordou o tema da pseudociência, isto é, ideias que afirmam ser baseadas em conhecimento científico, mas que não se apoiam nos métodos utilizados em ciência.

Foi memorável, uma das suas frases de abertura: “Pseudociência e vigarices já têm demasiado tempo de antena. É tempo de dar voz à ciência, à razão e ao cepticismo”. Não poderia estar mais de acordo.

Dentro desta temática, David aproveitou por mencionar alguns dos assuntos que surgiram no seu novo livro recentemente lançado pela editora Gradiva, “Pipocas com Telemóvel e outras histórias de falsa ciência” (1).

Assim, David começou por desmistificar os filmes espalhados no youtube em que grãos de milho se tornam pipocas, devido, alegadamente, à radiação dos telemóveis; informou a plateia de um movimento internacional que pretende atingir a paz global através de um orgasmo colectivo; reflectiu sobre os dados existentes referentes às alterações climáticas; alertou para a necessidade de estarmos informados relativamente às informações alegadamente científicas dos benefícios de alguns produtos com suplementos alimentares; e advertiu a audiência para a problemática das terapias alternativas.

Cepticismo: cuidado com a realidade

Figura 5- Palestra de Diana Barbosa sobre o cepticismo (foto de L. Abrantes)

Antes da habitual sessão de questões colocadas aos oradores, foi a vez da bióloga Diana Barbosa, em representação da Comcept, falar sobre o que é ser céptico. Mencionou a importância do cepticismo no dia-a-dia; como usar o método científico como ferramenta de identificação de pseudociências; e mencionou a beleza de observar e compreender a realidade tal e qual ela é, sem necessidade de recorrer a superstições ou ao sobrenatural.

Em pouco tempo, a Diana fez uma apresentação brilhante, que pode ser visualizada aqui: Vídeo
Depois disto, mais palavras para quê?

Sobre os oradores, consulte aqui.

Conclusão:

Posso dizer que este primeiro grande evento da Comcept, a uma escala nacional, correu muitíssimo bem, tendo ultrapassado as nossas melhores expectativas. Mobilizou cidadãos de todo o país e com diferentes níveis de formação, quase que encheu o auditório, e o feedback obtido através das pessoas que assistiram foi extremamente positivo.

A Comcept agradece aos oradores que aceitaram o convite para estarem presentes neste evento; à Câmara Municipal e à Biblioteca Municipal da Nazaré por terem cedido o espaço e por nos terem acolhido calorosamente; ao Cláudio Tereso por todo o trabalho e acompanhamento no local; e aos restantes colaboradores que permitiram tornar este evento possível. O mérito do sucesso desta iniciativa é de todos vós. Em nome da Comcept, obrigado.

Figura 6 – Sendo este um evento de divulgação científica, não poderiam faltar os livros de ciências (foto de L. Abrantes)

Nota:
(1)    – Sobre este livro falaremos noutra altura.

Colaboração:
Biblioteca Municipal da Nazaré
LCortes – papelaria, centro de cópias e informática
Astro PT – Informação e Educação Científica

Apoio:
Livros e Companhia – livraria
Vale Paraíso Camping

4 Comments

    1. Obrigada!
      Estamos a planear para breve um Cépticos com Vox no Porto.
      Esteja atento à página e venha participar na tertúlia 😉

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Procurar
Outros artigos
Votação para o Prémio Unicórnio Voador 2023
Comcept
Quando o marketing se apropria dos conceitos “Natural” e “Tecnológico”
João L. Monteiro
FORAM EXIBIDOS SERES EXTRATERRESTRES NO MÉXICO?
João L. Monteiro