Depois do nosso colega Marco Filipe ter partilhado a palestra de Michael Shermer na TED Talk intitulada Por que acreditam as pessoas em coisas estranhas?, venho agora falar do livro com o mesmo nome.
Ao longo do livro, Shermer fala de ciência e pseudociência, de cepticismo e de crenças, da razão e da superstição, através de exemplos e de histórias do nosso dia-a-dia. Aí poderemos encontrar relatos de OVNIs e de raptos por extraterrestres, de percepção extra-sensorial e de experiências próximas da morte, da caça às bruxas e de pseudohistória.
O livro está dividido em cinco partes:
I – Ciência e Cepticismo; II – Pseudociência e Superstição; III – Evolução e Criacionismo; IV – História e Pseudohistória; e, em jeito de conclusão, V – A Esperança Brota Eternamente.
Na primeira parte, o autor define e fala do que caracteriza a ciência e o cepticismo. Segundo o autor:
O cepticismo é um método, não uma posição. Os cépticos não entram numa investigação fechados à possibilidade de que o fenómeno seja real ou a afirmação seja verdadeira. Quando dizemos que somos cépticos, queremos dizer que precisamos ver evidências concretas antes de acreditar. [1]
Também o método científico se revela importante, com a obtenção de dados para formular e testar as explicações para fenómenos naturais. A segunda parte, em que aborda o tema das superstições e de fenómenos paranormais, remete para a leitura de Um mundo infestado de demónios, de Carl Sagan. Na terceira parte, dá a conhecer a problemática do criacionismo, e as tentativas da sua implementação nos programas escolares através da sua nova versão: o Inteligent Design. A quarta parte é dedicada aos revisionistas históricos que negam o Holocausto.
Achei esta parte do livro extremamente interessante. Os negacionistas do Holocausto não negam o anti-semitismo e a perseguição de judeus. Para eles, teriam morrido “apenas” dois milhões de judeus, mas devido a fome, doenças e a trabalhos forçados nos campos de concentração. Mas isto parece ir ao encontro dos relatos oficiais; sendo assim, o que é que eles negam? São três os pontos contestados: a morte de 5 a 6 milhões de judeus, que consideram um exagero; as câmaras de gás e crematórios não teriam servido para matar judeus, num programa de extermínio discutem a intencionalidade de genocídio baseado primariamente na raça. Shermer explica o que está por detrás destas ideias, e por que é que não são apoiadas pelos académicos. Basicamente, devido à convergência de provas que apoiam o relato oficial, a saber: fotos, documentos escritos, depoimentos de testemunhas oculares, provas físicas e demografia.
O livro é dedicado a Carl Sagan e conta com o prefácio de Stephen Jay Gould.
Michael Shermer é psicólogo, escritor e historiador da ciência. Foi o fundador da revista Skeptic Magazine e director da Skeptics Society. Como acontece com muitas pessoas, Shermer foi-se tornando céptico com o tempo e devido às suas experiências de vida. Segundo relata, durante dez anos enveredou pelo mundo da medicina alternativa e das terapias para melhorar a sua aptidão física, até ao momento em que foi começando a questionar os resultados que não se verificavam.
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Referência:
[1] – Michael Shermer (2001), p. 8
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Fonte:
Michael Shermer, Por que acreditam as pessoas em coisas estranhas? – Pseudociência, superstições e outras confusões do nosso tempo, Editora Replicação, Lisboa, 2001 – Tradução Joana Rosa
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7 Comments
Pequena correcção: Tanto quanto sei o Michael Shermer não é psicológo!
Ele licenciou-se em Psicologia e doutorou-se em História da Ciência.
Há, no entanto, que ter em conta que as “licenciaturas” americanas não correspondem exactamente às portuguesas.
http://en.wikipedia.org/wiki/Michael_Shermer
E, efectivamente, não exerce a profissão de psicólogo.
Obrigada pela chamada de atenção.
Olá Bernardo,
O Michael Shermer tem B.A. em Psicologia e M.A. em Psicologia Experimental (algo mais ou menos equivalente, grosso modo, a licenciatura e mestrado). Além disso foi professor universitário de Psicologia durante 20 anos. http://www.skeptic.com/about_us/meet_michael_shermer.html
Peço desculpa então. Engraçado que na Wikipedia não refere isso. Moral da história: consultar mais do que uma fonte!
Aliás, não referia e agora refere.
Olá Bernardo, não há que pedir desculpa.
Poderia ter sido erro meu e ter passado. Assim, com a revisão dos leitores, sempre se diminuem os erros.
De facto, na wikipedia em inglês não é referida logo no 1º parágrafo a sua formação em psicologia. Essa informação só surge mais à frente.
Grato pela atenção.