No passado dia 16 de Abril, comemorando o 4º aniversário da COMCEPT e o 40º aniversário da Constituição da República Portuguesa, organizámos uma visita ao Museu do Aljube, antiga prisão política da PIDE em Lisboa, hoje um museu dedicado à memória da resistência à ditadura.
Foi uma visita muito interessante, que recomendamos vivamente!
Coincidentemente, estava também a fazer uma visita guiada ao museu um antigo prisioneiro político: Domingos Abrantes. Domingos Abrantes, membro do Partido Comunista Português, esteve preso 11 anos durante a ditadura, sendo a partir de 1976 deputado do Partido Comunista Português até 1991 e hoje membro do Conselho de Estado.
Tivemos então a fortuna de que nos fizesse, na primeira pessoa, o relato da sua fuga “cinematográfica” da prisão de Caxias em 1961, na qual foi usada o carro blindado do ditador Salazar:
[youtube width=”600″ height=”365″ video_id=”dyTepQWIrQo”]
Pequeno resumo histórico desta fuga:
A 4 de Dezembro de 1961, oito prisioneiros políticos no Forte de Caxias, fugiam da prisão recorrendo a um carro blindado de Salazar – um Chrysler Imperial comprado em 1938. A preparação para esta fuga foi demorada porque implicou que um dos conspiradores “rachasse”, ou seja, se fizesse passar por traidor dos outros prisioneiros e ganhasse a confiança dos guardas. Ao longo de meses, António Tereso ganhou então confiança dos GNR e consegui alguma liberdade de movimento, reparando o carro que estava guardado na garagem do forte, sendo habitual “dar uma volta” com ele dentro da cadeia. No dia e à hora marcada, José Magro deu o sinal, gritando “Golo!” no pátio. Com Tereso ao volante, os outros sete prisioneiros entraram no carro, que arrancou a alta velocidade e arremessou contra o portão, saindo do forte. (Habilmente, Tereso tinha sabotado os outros carros presentes na prisão.) O carro blindado foi depois abandonado em Lisboa. Os oito fugitivos foram: José Magro, Francisco Miguel, Domingos Abrantes, António Gervásio, Guilherme de Carvalho, Ilídio Esteves, Rolando Verdial e António Tereso.
Algumas fontes:
- RTP Ensina – História a História: Fuga das prisões políticas do Estado Novo – onde podem ver e ouvir relatos destas e de outras fugas de prisões políticas, com vários grafismos que ajudam a compreender a operação.
- Museu do Caramulo: Chrysler Imperial
- Jornal Avante: “Determinação que derruba os mais fortes portões”