«You say masturbation like it’s a bad thing»

A reflexão, no dia do nosso 5º aniversário.

Este é o 5.º aniversário da Comunidade Céptica Portuguesa, o primeiro desde que passámos a ser oficialmente uma associação. Alinhar numa comunidade céptica não anda muito longe de outras formas de participação cívica, social e política. É uma questão de higiene intelectual. No passado houve campanhas públicas de divulgação dos benefícios do duche e da higiene oral na prevenção de doenças várias. O pensamento crítico é necessário à prevenção de inúmeras maleitas sociais, verdades alternativas incluídas.

Acusam-nos por vezes de masturbação intelectual. Não é verdade, porque somos muitos e a masturbação é uma coisa solitária; se fosse verdade, só aceitaríamos a condenação vinda de uma trisavó vitoriana, um padrinho fascista ou outra personagem bolorenta.

Há algumas ideias erradas subjacentes a esta censura: que basta, a cada um de nós, individualmente ou no nosso grupinho de pessoas preferidas, saber separar o trigo do joio; a ideia de associação é arrogante: quem somos nós para pretendermos divulgar e promover o espírito crítico? Quem é que nos disse que o temos para o podermos partilhar? As pessoas que poderíamos ajudar não querem ou não conseguem aprender.

Não basta. O pensamento crítico aproveita às sociedades em conjunto. Os surtos de doenças que já estavam controladas e voltaram a manifestar-se por causa da moda estúpida do movimento anti-vacinação demonstram, tristemente e ao contrário, que não estamos a salvo no nosso cantinho.

E a mesma pessoa que hoje não quer saber e reenvia um email a alertar para o perigo das uvas robots gigantes assassinas é a mesma que continua a não querer saber quando o populista tuga loiro surgir – dizem-me não temos candidatos mas sei que estas figuras, até debutarem, se escondem muito bem – a prometer-nos o paraíso se tratarmos muito mal as pessoas de outros países e baixarmos a guarda nas liberdades cívicas.

Também há crianças lúcidas e suficientemente articuladas para pensarem no mundo e procurarem respostas e absorverem muita informação por segundo. Nunca se pensa nisto. As coisas são sempre pensadas a partir da perspectiva da idade adulta, que nem sequer é garantidamente a mais brilhante (é só a dominante). Parece que os adultos ou são todos amnésicos ou foram crianças muito tolas. Não. Alguns de nós lembram-se. Há uma idade em que já se pensa muito e bem e as pessoas mais velhas não têm pedalada para responder a tudo a um ritmo adequado: têm boa vontade e conhecimentos mas trabalham, cozinham, têm pressa, estão cansadas, dormem e passam muitas horas a fazer isto. Antigamente havia a Lello, a Luso-Brasileira, a Britannica: podiam ter incorrecções por desactualização, mas não por ignorância alarve ou má-fé. Estavam sempre nas casas e nas bibliotecas públicas, gigantes contra a má informação. Agora há a Wikipedia, que nem sequer é a fonte mais selvagem de informação da Internet.

O associativismo céptico é uma questão de responsabilidade social. Não sabemos se temos espírito crítico, mas juntos podemos tê-lo e sozinhos, ainda que o tenhamos, não nos serve de grande coisa.

A inteligência é um bem universal inesgotável, uma ferramenta necessária para percebermos e nos adaptarmos ao mundo, um instrumento de defesa pessoal contra, na verdade, tudo: desde o professor injusto ao político corrupto. A má informação trata-nos como se não fôssemos inteligentes. Não dá lá muito jeito e, sobretudo, é um tratamento indigno, injusto, perigoso. É uma forma de desumanização.

Só na aparência a má informação é inócua. É preciso chamá-la pelo que é, com a mesma intransigência com que se derrubam os ditadores.

4 Comments

  1. Há encontros felizes. Este, com a COMCEPT, casualmente aconteceu quando ouvia rádio. De facto, de pouco vale ficar-se só com as brilhantes e sensatas ideias e refilar com tudo e todos em pensamento. Como um obstinado insano! Por isso, obrigada a todos/as que criaram a comcept. Parabéns

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