E eu, sem nada saber, sorria

O caso da indignação das pessoas com a baleia morta na praia, engasgada com várias toneladas de lixo de plástico, dá um belo case study.

O caso da indignação das pessoas com a baleia morta na praia, engasgada com várias toneladas de lixo de plástico, dá um belo case study.

Para uns é verdade porque, por credulidade ou superficialidade, são incapazes de verificar a informação que lhes é dada, para o que, neste caso, bastava olhar para a fotografia; para outros é mentira porque percebem, pela fotografia, que a baleia não é verdadeira.

Os primeiros não acham estranho que os dentes da baleia sejam como cabeleiras de plástico e que o olho visível seja um tupperware; os segundos não querem saber que raio faria uma baleia de plástico numa praia e quem e porquê se daria ao trabalho de fazê-la e deixá-la lá.

Ambos se ficam pelo mundo entregue em bandeja – de plástico – por uma rede social.

Afinal havia outra resposta além da verdade e da mentira: a baleia de plástico era uma instalação da Greenpeace em campanha contra a poluição marítima.

whale-asean - Cópia

A maioria dos sites noticiosos percebeu tratar-se de uma campanha, noticiou-a, os títulos das notícias chamavam à baleia muito claramente instalação ou usavam aspas em dead whale. Depois, por cá, começou a ser partilhada uma notícia posta em português por quem não percebeu a notícia em inglês e na qual, à mistura com fotografias da instalação da Greenpeace, se pode ler que a “montanha de resíduos plásticos que saia da boca da baleia em decomposição (sic) era tão grande que ninguém pode ficar indiferente” e que tal “acontecimento fez a defesa ambiental Greenpeace do Sudeste Asiático nas Filipinas manifestar-se.” E, pronto, foi lançado o caos.

Bastam cinco minutos de pesquisa, em média, para esclarecer notícias que parecem estranhas. Pode parecer pouco, mas é isto que nos salvaguarda de um dia elegermos um trumptuga. O mesmo vale para encontrar sites com traduções fidedignas de notícias, caso só tenhamos prestado atenção cinco minutos durante as aulas de inglês e precisemos mesmo muito de traduções.

Ninguém parece boa pessoa por carpir virtualmente a morte de uma baleia que nem sequer existe. Mais vale parar a exibição patética e usar o mesmo esforço para confirmar notícias antes de as espalhar.

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