Deverá a religião ser ensinada nas aulas de ciências? Esta é uma questão intrinsecamente associada ao debate Criacionismo Vs Evolução e que ressurgiu há uns meses, a propósito de uma conferência que iria ter lugar na Universidade do Algarve. Os membros da COMCEPT acompanharam a situação e, recentemente, publiquei um texto na revista Algarve Vivo (nº77), em que fiz um ponto da situação do que ocorreu e do seu desfecho. É isso que agora aqui partilho:
Imagem por Geralt
A 23 de Outubro deste ano, deveria ter ocorrido uma conferência sobre o “Design Inteligente” na Universidade do Algarve, promovida pelo Núcleo de Alunos Brasileiros daquela universidade. No entanto, a conferência foi cancelada e a organização deslocou-se para a Faculdade de Letras da Universidade do Porto. No entanto, também aí acabou por ser cancelada, acabando por realizar-se em Leon, Espanha. Devo dizer que os responsáveis por estas duas universidades portuguesas estiveram muito bem ao impedir que aquela conferência tivesse lugar naqueles espaços de conhecimento, uma vez que impediram a propagação de ideias contrárias ao conhecimento científico no meio académico. Essa era uma conferência de propaganda religiosa mascarada de debate científico, que pretendia dar palco aos oradores para que pudessem ostentar um certificado que comprovasse que as suas ideias têm sido acolhidas no meio universitário. Ou seja, trata-se de um estratagema para obter legitimação académica.
O “Design Inteligente” não é mais do que o “Criacionismo” misturado com conceitos científicos. O “Criacionismo” é a ideia de que a vida foi criada tal como descrita na Bíblia e de que os seres vivos não evoluíram ao longo do tempo. Isto é algo que nem a Igreja Católica defende, tendo mesmo o teólogo Joaquim Carreira das Neves escrito que quem defende essa ideia revela ignorância bíblica, uma vez que o que está descrito no Génesis é um mito da criação, como outras culturas têm outros mitos (ver livro “Evolução a duas vozes”, da Bertrand Editora). Mas se estas ideias não colhem apoio no Catolicismo, são muito fortes junto de Igrejas Evangélicas que fazem uma interpretação literal, em vez de simbólica, da Bíblia.
Esta pressão religiosa tentou, nos EUA, durante o século XX, que o “Criacionismo” fosse ensinado nas aulas de Ciências, tendo o caso chegado aos tribunais. O veredito ditou que tal ideia fosse rejeitada, podendo ser ensinada nas aulas de religião, mas nunca nas de ciências, pois o criacionismo é uma crença e não um facto. Para contrariar essa decisão, os criacionistas criaram uma nova disciplina, o “Design Inteligente”, e formaram ‘jovens cientistas’ para comprovarem esta hipótese, que tem sido sistematicamente refutada pela Ciência. Mas se dúvidas houvesse de que o “Design Inteligente” é religião e não ciência, veja-se quem patrocinou a organização: Discovery Institute (criacionista), Universidade Presbiteriana MacKenzie, Centro Universitário Unievangélica e o Centro Universitário Adventista de SP.