Esta semana foi marcada por uma conferência que gerou polémica entre o meio académico. Em causa está a organização de um encontro que se quis passar por científico sem o ser, utilizando uma universidade como meio de legitimação – o que originou críticas entre cientistas.
Olhando para as notícias publicadas, podemos resumir os acontecimentos da última semana da seguinte maneira: uma docente da Faculdade de Letras da Universidade do Porto organizou uma conferência sobre Alterações Climáticas. Da organização faziam também parte o Independent Committee on Geoethics e o Heartland Institute, ambos conhecidos por conterem negacionistas das alterações climáticas e por terem organizado uma contra-conferência durante a conferência oficial realizada pelas Nações Unidas, o Climate Change Conference in Paris (COP21), em 2015. O Heartland Institute esteve também, na década de 1990, envolvido no negacionismo dos malefícios do tabaco e utilizou uma estratégia semelhante a esta, a de convidar um grupo minoritário de cientistas a defender o contrário do que as evidências científicas indicavam. Para além das instituições organizadoras, a qualidade científica dos oradores também levantou dúvidas – ou por estarem associados a essas instituições ou pelo seu currículo de publicações em revistas predatórias ou ainda por leccionarem radiestesia. Para além de tudo isto, a conferência não ia discutir as causas das alterações climáticas, mas apenas algumas das possíveis causas, excluindo à partida a causa que é consensual entre a comunidade científica. Foi, pois, este conjunto de circunstâncias que motivou diferentes investigadores a alertarem para o que estava de facto a acontecer. Perante estas críticas justificadas, a organizadora acusou os cientistas de a estarem a censurar, algo que não aconteceu. Aliás, os cientistas salientaram a importância dos debates serem “plurais e abertos ao escrutínio científico”, o mesmo quando escreveram a carta aberta assinada por dezenas de cientistas e comunicadores de ciência. A Universidade do Porto declarou não se rever no conteúdo da conferência e o Banco Santader esclareceu que não era patrocinador do evento. Acontece que a haver censura esta manifestou-se por parte dos organizadores da conferência: para além de limitarem os temas, disseram que não queriam a presença de cientistas que defendessem a visão dominante sustentada por evidências científicas, dos 33 oradores 25 foram escolhidos a dedo por um dos organizadores ligado ao think tank negacionista, e só foram dados 5 minutos para debate após cada apresentação. Verifica-se assim que não houve desde o início vontade em debater, mas antes em lançar a dúvida junto da opinião pública, fabricando uma controvérsia científica onde ela não existe.
Através do debate gerado, percebemos que o termo “Negacionismo” ainda é desconhecido para muitas pessoas e que o confundem com “Cepticismo”. Por essa razão, recuperamos um documento que se encontra na nossa secção de Recursos: Negacionismo – quando os factos são rejeitados.
A propósito deste tema, recuperamos a palestra dada por Carlos Teixeira sobre o Negacionismo das Alterações Climáticas, durante a ComceptCon 2015.
Fontes:
Conferência de negacionistas do clima no Porto. “Universidade está a alugar a sua credibilidade” – Diário de Notícias 4/9/2018
Universidade do Porto rejeita ligações a negacionistas das alterações climáticas – Diário de Notícias 4/9/2018
Quem são os polémicos oradores da conferência na Universidade do Porto? – Diário de Notícias 4/9/2018
Quem são e o que defendem os negacionistas da conferência na Universidade do Porto – Público 5/9/2018
Universidade do Porto vai acolher uma conferência de negacionistas das alterações climáticas – Observador 5/9/2018
O erro da Universidade do Porto ao abrir as portas ao negacionismo das alterações climáticas – Observador 6/9/2018
“Isto é como fazer um colóquio sobre criacionismo num departamento de Biologia” – Diário de Notícias 6/9/2018
Carta aberta de cientistas: “Universidade do Porto não deve dar credibilidade à negação da ciência” – Diário de Notícias 6/9/2018
“O mainstream não sabe nada” das alterações climáticas – Público 7/9/2018