Círculos nas searas

O texto de hoje é dedicado aos Crop Circles – Os círculos nas searas.

O texto de hoje é dedicado aos Crop Circles – Os círculos nas searas.

O que são

Figura ou conjunto de figuras geométricas desenhadas em campos cerealíferos ou de pasto, normalmente atribuídos, pela cultura popular, a naves extra-terrestres que deixavam estas marcas ao pousar nos campos.

Crop Circle

Questões

Assumindo a premissa defendida pela cultura popular, de que estes círculos são formados por naves alienígenas [1], algumas questões podem, desde já, ser levantadas:

  1. Porque é que estas naves aterram apenas nos campos e nunca em cidades?
    .
  2. Com tantos desenhos, como é que nunca ninguém viu estas naves?
    .
  3. Se os alegados tripulantes destas naves querem estabelecer contacto, porque é que realizam as figuras de noite e em locais pouco habitados, como se não quisessem ser vistos?
    .
  4. Porque é que nunca se fizeram sessões de observação nos campos cerealíferos com o intuito de monitorizar as áreas em que surgem os círculos? – De facto já foi feito várias vezes e até está documentado pela BBC [2].

.

História

Todos os fenómenos têm uma explicação natural e este não é excepção, como poderemos ver.

Este facto teve início na Grã-Bretanha quando surgiram círculos marcados em campos de cereais, na década de 1970. As imagens rapidamente chamaram a atenção dos habitantes locais e, à medida que apareciam novas figuras, captaram a atenção dos media. Logo surgiram várias hipóteses para a origem dos círculos, e quanto mais crescia o interesse das pessoas mais círculos surgiam. Várias pessoas dedicaram-se a estudar o evento: enquanto os cientistas procuravam nas condições climatéricas uma explicação natural para as representações, meros curiosos, que rapidamente se afirmaram especialistas do assunto (designados cerealogistas), apresentavam como causas principais os efeitos de radiação geo-magnética, vórtices de plasma criados pela Terra (assumindo que é uma entidade viva denominada Gaia), ou naves alienígenas[3].

Na transição da década de 80 para a de 90, as imagens passaram de meros círculos para figuras geométricas cada vez mais complexas. Com o aumento da complexidade, a interpretação dada pelos cerealogistas já não passava tanto por locais de aterragem das naves mas por tentativas de comunicação entre seres inteligentes de outros planetas e a humanidade, dado que algumas representações assemelhavam-se a imagens de fractais.

Entretanto, novas imagens começaram a aparecer noutros locais do Reino Unido, assim como por outros países da Europa, mas também na América e Ásia, o que parecia reforçar a ideia de contacto extraterrestre.

.

A verdadeira origem dos círculos nas searas

Foi em 1991 que o assunto ficou esclarecido. Afinal os círculos nas searas tinham vindo a ser realizados, desde há quinze anos, por dois indivíduos de Southampton, Doug Bower e Dave Chorley. Inspirados pelos relatos de OVNIs, decidiram divirtir-se, desenhando os pictogramas nos campos de cereais para enganar os mais incautos. A ideia surgiu numa noite de copos, onde reinava a boa disposição, segundo conta Carl Sagan:

Planearam a coisa uma noite, à frente de cervejas, no seu Pub habitual, The Percey Hobes.

Os desenhos foram realizados com uma barra de aço e, posteriormente, com recurso a tábuas e cordas. Com o passar dos anos aconteceu o que já relatámos, os desenhos tornaram-se mais complexos e começaram a surgir imitadores noutros continentes.

Já com cerca de 60 anos, os autores do embuste, decidiram esclarecer a verdade, receando que as pessoas não acreditassem se passasse mais tempo. Contudo, os media pouca atenção deram ao caso; os Ovniologistas, os Cerealistas e os seguidores das ideias New Age tentaram abafar as explicações com o objectivo de salvar um negócio chorudo à volta dos pictogramas: visitas guiadas aos campos, livros, documentários, palestras, etc. A excepção vai para o jornalista Jim Schnabel, que denunciou a situação e deu visibilidade ao caso, com o livro Round in Circles.

Claro que neste caso também não falta espaço para Teorias da Conspiração. Após a confissão de Bower e Chorley, alguns cerealogistas afiançaram que as declarações estavam relacionadas com um conluio entre a CIA, o MI-5, o Serviço Secreto Alemão e o Vaticano para que não se continuassem as investigações [4]. Estamos perante a lógica comum às teorias conspiracionistas: cria-se a premissa inicial (falsa) de que há uma ou várias entidades que tentam ocultar algo da população [5], uma segunda premissa de que existe um esforço a todo o custo para realizar esse ocultação, concluindo-se no final que existe uma verdade que se tenta esconder – curiosamente esta verdade é sempre a dos conspiracionistas e nunca factos verificados.

.

Conclusão

Com base: nas informações disponíveis após décadas de estudo, na análise desses resultados por equipas independentes, nos relatos de Bower e Chorley, nas missões de observação filmadas, conclui-se que todas as figuras geométricas nas searas foram desenhadas por seres humanos. Actualmente, até há um grupo que se dedica a essa actividade: os circlemakers [6].

.

Fontes

Livros:

Carl Sagan, Um Mundo Infestado de Demónios (3ª ed.), Gradiva, Lisboa, 2002

Jim Schnabel, Round in Circles: Physicists, Poltergeists, Pranksters and the Secret History of the Cropwatchers, Penguin Books, 1994

Links:

Círculos nas searas – AstroPT

Cepticismo aberto: caso encerrado

CSICOP – Crop Circles I

CSICOP – Crop Circles II

Circle Makers


[1] Outras explicações paranormais passam por vórtices de plasma ou por espíritos.

[2] Ver: http://www.ceticismoaberto.com/fortianismo/3718/especialistas-em-crculos-ingleses-destroem-sua-evidncia – neste texto também é revelado como supostos investigadores de crop circles perderam a sua credibilidade, quando os resultados das suas investigações foram demonstrados serem uma fraude. Esta equipa afirmava que alguns círculos possuíam valores elevados de energia e que “seu traçado geométrico segue matematicamente o modelo não-linear de colisões de onda de choque iônico-acústicas em um plasma íon-elétron”!! – Eis um bom exemplo que ilustra o que é a pseudociência: termos supostamente técnicos misturados num contexto inapropriado, formando uma afirmação sem qualquer significado.

[5] Ainda por cima entidades ou instituições que poucas ou nenhumas ligações têm entre si, como é o caso. Os conspiracionistas costumam pegar em várias entidades e metê-las todas juntas no mesmo saco, como se fosse tudo o mesmo.

One Comment

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Procurar
Outros artigos
Votação para o Prémio Unicórnio Voador 2023
Comcept
Quando o marketing se apropria dos conceitos “Natural” e “Tecnológico”
João L. Monteiro
FORAM EXIBIDOS SERES EXTRATERRESTRES NO MÉXICO?
João L. Monteiro